Resenha: Magaivers – Bacon (2016)
Uma coisa que todo jovem músico já tentou fazer no começo da (ahem) carreira é tocar Ramones. Aí você, jovem guitarrista, com sua guitarra coreana e um amplificador Meteoro de transístor, descobre que tocar Ramones (e punk no geral) é difícil pra cacete. Sim, são só três acordes, mas você não dá conta de cantar, tocar, trocar de nota ou qualquer outra coisa ao mesmo tempo. E, pra piorar, termina com o punho dolorido e inchado. Por isso, ao ouvir Bacon, sexto álbum do trio curitibano Magaivers, não dá pra fazer outra coisa senão respeitar o trabalho dos caras. Esse combo de 14 faixas curtas e velozes satisfaz qualquer roqueiro que já empunhou uma guitarra vestindo uma camiseta surrada do quarteto novaiorquino e um cinto de tachas.
Este, que é o sexto álbum da Magaivers, foi fruto de um financiamento coletivo através da plataforma Catarse. E valeu cada centavo. As músicas são excelentes e divertidas. A produção é impecável, mas ainda com aquela sujeira que a gente espera de um disco de rock. Cada baquetada na caixa e cada pisada no bumbo são um chute direto no ouvido. A guitarra é rápida e com aquela distorção gostosa e quentinha que abraça seus ouvidos depois da agressividade da bateria. E o baixo? Ah, o baixo! Aquela cama de graves que complementa perfeitamente os agudos distorcidos e dá um corpo maravilhoso para cada faixa do disco. A produção de Davi Pacote combina a sujeira do rock com um profissionalismo na medida certa. Soa como um show num bar esquisito com cheiro de cigarro impregnado nas paredes e cerveja derramada pelo chão e os amplificadores.
Não ironicamente, a banda lançou o álbum num literal festival, com churrasco, cerveja, bacon e até uma pista de skate!
Bacon soa como um álbum gravado ao vivo — e isso é um elogio. Tem pegada crua, energia de sobra e nenhuma preocupação em polir demais as arestas. As influências estão todas lá, escancaradas e bem digeridas: dá pra sentir o cheiro de Ramones, Beach Boys, Raimundos e Ultraje a Rigor. Aliás, o próprio Roger Moreira participa de “Decolando”, uma faixa mais fresca e divertida do que muita coisa que o Ultraje lançou neste século. “Pecilotérmico”, com sua letra biologicamente reptiliana, poderia muito bem ser uma música perdida dos Misfits. As letras, aliás, são um dos pontos altos do álbum. Todas foram escritas pelo vocalista Rodrigo Porco, que também assina a composição das faixas. Entre o rock despretensioso e o humor escrachado, ainda sobra espaço pra ternura, como na romântica “Dois Segundos”.
Sem firula, sem enrolação: o que o Magaivers entrega aqui é punk rock despretensioso, barulhento e com refrão grudento. Não tem pose, nem qualquer pretensão de reinventar a roda. O que tem é atitude, boas sacadas e uma banda que parece se divertir a cada segundo de cada canção. É o som de quem conhece bem suas referências, toca com convicção e sabe rir de si mesmo. No fim das contas, Bacon dá vontade de ver ao vivo — de preferência com um copo de cerveja artesanal numa mão e um hambúrguer com bacon extra na outra.
Bacon – Magaivers
Gravadora: Independente
Se este álbum tivesse sabor, seria de um belo hambúrguer com bacon crocante acompanhado de uma cerveja artesanal.