Resenhas

Resenha: Sarcófago – The Worst/Crust (2016)

Lançado em 1997, The Worst é o último suspiro oficial do Sarcófago. O título soa autodepreciativo, mas o conteúdo deixa claro que não há espaço para arrependimento. Como a faixa título diz: “Remember my friend, the worst is to come”. A banda de Wagner Lamounier e Gerald Minelli nunca buscou consenso e, talvez não intencionalmente, encerrou a carreira mergulhando de cabeça no que faziam de melhor: metal extremo.

O álbum troca o caos sonoro dos primeiros discos por um som mais seco e direto. A bateria programada continua ali, sem disfarces, marcando o compasso mecânico e um pedal duplo que mais parece a cadência de uma metralhadora. A produção é crua e os riffs são brutos como facas cegas. A Wagner parece ainda mais raivoso nos vocais, urrando numa amargura niilista. Musicalmente, The Worst flerta com o death metal mais cadenciado, quase industrial em alguns momentos. “God Bless the Whores” e “Satanic Lust” mostram que a banda ainda sabia escrever faixas impactantes, mesmo que a banda não tivesse mais a urgência da juventude.

Este relançamento de 2016 ainda inclui Crust, lançado em 2000, o derradeiro EP da banda. São faixas ainda mais diretas e minimalistas. A produção é quase punk de tão tosca — digo isto sem intenção nenhuma de ofender aqui. É um pós-escrito sufocado, raivoso e sem esperança, como se a banda quisesse ir raivosamente até o fim, cuspindo sangue até a última nota.

The Worst não é o disco ideal pra começar a ouvir Sarcófago. Se essa for a intenção, vá de I.N.R.I. ou Rotting. Mas como despedida, ele faz sentido. É seco, agressivo, sem firulas. Um epitáfio blasfemo para uma das bandas mais infames — e subestimadas — do metal brasileiro.

9.1

The Worst/Crust – Sarcófago

Gravadora: Cogumelo Records

O último urro gutural da banda, este é álbum é um testamento do metal extremo sem concessões.

Alexandre Aimbiré

Alexandre Aimbiré

Estudante de Letras, guitarrista de fim de semana, DJ ocasional, leitor ávido de Wikipédia e escritor de romances de gaveta. Manézinho de nascimento, criado em Porto Alegre e atualmente mora em São Paulo. Como todo bom crítico, já tocou em várias bandas que não deram em nada.

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