Crônicas

Weezer e a Memeficação da Música

O cenário musical mudou rápido nos anos 90, principalmente no rock. O excesso do hair metal saiu de moda e o “alternativo” virou a bola da vez. Foi nesse contexto que surgiu o Weezer. A banda californiana explodiu logo de cara com seu disco de estreia auto intitulado — conhecido entre os fãs como The Blue Album — e hits como “Buddy Holly” e “Say It Ain’t So”. A combinação de letras idiossincráticas com riffs de guitarra chiclete fez ser esquisito parecer legal e fácil de se identificar, o que impulsionou o sucesso inicial da banda. O clipe de “Buddy Holly”, dirigido por Spike Jonze e ambientado num episódio fictício da série Happy Days, ajudou a solidificar esse momento, assim como a presença de músicas da banda em trilhas de filmes tipo Barrados no Shopping (1995), do diretor Kevin Smith.

Mas o hype não durou tanto. Quando lançaram Pinkerton em 1997, produzido por eles mesmos, a recepção foi desastrosa. O disco flopou em vendas e levou uma surra da crítica. Hoje em dia é cultuado como um dos melhores e mais pessoais da banda, mas na época foi o suficiente pra causar um hiato e a saída do baixista original, Matt Sharp. O Weezer só voltou à ativa em 2000, com outro álbum autointitulado — o Green Album. Desde então, eles seguem lançando material novo com frequência: foram doze álbuns em vinte anos. Apesar de ainda conseguirem algum sucesso comercial e manterem uma base de fãs, boa parte da crítica e dos fãs antigos virou as costas pra essa fase mais recente.

Mesmo nos discos mais criticados, ainda saíram alguns hits. The Green Album e Maladroit, por exemplo, tocaram bastante nas rádios e na MTV. Isso durou até Make Believe, de 2005, e o single “Beverly Hills”. A música foi indicada ao Grammy e ficou meses no Top 100 da Billboard. Mas é uma faixa polêmica: o público novo adorou, enquanto os fãs antigos odiaram. Rob Mitchum, da Pitchfork, deu nota 0.4/10 pro álbum e soltou a pergunta que muita gente se fazia na época: Isso destrói o legado da banda? Dá pra continuar gostando do Weezer depois disso?

Avançemos pra 2025. Hoje eu sou “weezerizado” por criadores de conteúdo no TikTok e no Instagram. Mas o que é isso? Você tá lá, rolando o feed, e alguém aparece com uma guitarra em punho. Independente do que é dito, o vídeo sempre termina com o riff de guitarra de “Buddy Holly” e um “te peguei” — pronto, você foi weezerizado. Se você vive na internet (ou mesmo que só dê umas voltas por lá de vez em quando), já deve ter sido rickrollado. A clássica pegadinha: você clica achando que é uma coisa, clica num link, e de repente começa a tocar “Never Gonna Give You Up”, hit de Rick Astley de 1987. Virou parte da cultura da internet e até ajudou a ressuscitar a carreira de Astley. Ser weezerizado é basicamente a mesma piada, mas sem graça. E pior: o próprio Weezer matou o humor.

Voltando um pouco, vamos revisitar alguns lançamentos mais fracos deles nos anos 2010. Não precisa ir muito longe: Ratitude e Hurley (esse com a cara do personagem da série Lost na capa) já dão o tom. A banda mergulhou de cabeça na ideia de não se levar a sério e acabou transformando cada música em uma piadinha ruim que você esquece antes mesmo de parar de rir sem graça. O ápice disso foi quando responderam a um tuíte de uma garota de 14 anos e gravaram covers de “Africa” e “Rosanna”, do Toto. Isso virou o disco The Teal Album, só de covers. Logo depois, meteram o infame riff de “Buddy Holly” no solo de “Enter Sandman”, do Metallica. Do dia pra noite, uma leva de criadores de conteúdo começou a tocar o riff em tudo quanto é música.

A essa altura, ninguém mais leva o Weezer a sério. Viraram uma caricatura de si mesmos e perderam completamente o encanto pra base de fãs mais velha, Gen-X e Xennials principalmente, Tudo em nome de transformar cada som, clipe ou produto em meme. Hoje, o público do Weezer é majoritariamente de Zoomers e Alphas que ainda acham esse tipo de coisa divertida. Talvez há vinte anos fosse engraçadinho vê-los com os Muppets, mas hoje em dia eles estão na casa dos cinquenta, lançando músicas com títulos como “Thank God For Girls” e interagindo com adolescentes nas redes — o que é especialmente preocupante considerando as alegações envolvendo o guitarrista Brian Bell.

O problema maior aqui é que a maneira de consumir música mudou completamente desde que as redes sociais surgiram. Artista, hoje, tem que ser influencer também — postar o tempo inteiro, torcer pro algoritmo entregar o conteúdo e rezar pra conquistar ou manter audiência. O Weezer pode ser só mais uma vítima do scroll infinito, onde tudo precisa ser rápido, leve, “consumível”. E o pior: esses truques continuam funcionando, por mais que deixem críticos e fãs frustrados. Não importa quão mal falem deles, sempre vão lançar alguma coisa que chama atenção de quem ainda se diverte com essas palhaçadas.

A decadência do Weezer é um caso clássico de perda criativa e de reputação destruída por eles mesmos ao longo de duas décadas. A banda se memificou por vontade própria. A nerdice, o “ser estranho”, sempre foi uma das forças do Weezer, mas eles levaram isso a uma extensão que hoje parecem mais personagens secundários esquecíveis de The Big Bang Theory do que músicos de verdade.

Alexandre Aimbiré

Alexandre Aimbiré

Estudante de Letras, guitarrista de fim de semana, DJ ocasional, leitor ávido de Wikipédia e escritor de romances de gaveta. Manézinho de nascimento, criado em Porto Alegre e atualmente mora em São Paulo. Como todo bom crítico, já tocou em várias bandas que não deram em nada.

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