Resenha: Harry Styles – Harry’s House (2022)
Em seu terceiro álbum solo, Harry Styles escolhe um tom mais íntimo. A “casa” do título não é apenas um espaço físico, mas um lugar interno que o cantor decide compartilhar com quem ouve. Harry’s House marca a maior distância que ele já percorreu da persona que o consagrou no One Direction — e mesmo assim, mantém uma fachada pop acessível, recheada de hits prontos para viralizar no TikTok. As letras tocam em experiências muito pessoais, mas a sonoridade é uma colagem generosa de referências: indie rock e synth pop dos anos 2010 (como em As It Was, o single de lançamento), mas também new wave, city pop japonês e pop-funk. A faixa de abertura, Music For a Sushi Restaurant, funciona quase como uma metáfora de Londres hoje — multicultural, brilhante, um lugar único no mundo.
As letras são confessionais, mas também falam de algo maior. As It Was é sobre mudança — sobre aceitá-la, acolhê-la. Quando Styles canta “You know it’s not the same as it was”, está se referindo a si mesmo, claro, mas também nos convida a pensar nas mudanças do mundo ao nosso redor. O Reino Unido que o acolheu na juventude já não existe mais. Love Of My Life, uma balada guiada por um grave de synth pesado, é quase uma ode à Inglaterra — ou a uma Inglaterra que não existe mais. Versos como “We don’t really like what’s on the news, but it’s on all the time” e “I remember back at Jonny’s place, it’s not the same anymore” trazem esse sentimento de estranhamento — como se o próprio artista não se reconhecesse mais no seu país natal.
Em Matilda, faixa acústica e delicada, Styles traça um paralelo entre sua história e a da personagem de Roald Dahl. A canção é um recado sutil sobre deixar para trás o que te prende e buscar crescimento fora do que te limita.
No fim das contas, Harry’s House pode ser lido como um retrato de uma Grã-Bretanha pós-Brexit, vista pelos olhos de um jovem britânico que tenta se reencontrar em um país que já não reconhece. Um sentimento que ele compartilha com muitos de seus conterrâneos — e com a própria Inglaterra, que já não é império, já não comanda os mares, e agora procura seu lugar dentro da casa de Harry.
Harry's House – Harry Styles
Gravadora: Columbia Records
Uma ode à Inglaterra — ou a uma Inglaterra que não existe mais.