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Resenha: Frank Jorge – Histórias Excêntricas ou algum tipo de urgência (2018)

No fim de 2018 saiu pelo Selo 180 o novo disco do Frank Jorge, um dos compositores mais consagrados do underground brasileiro. Líder da lendária e genial Graforreia Xilarmônica e metade do livre associativismo bubblegum da dupla Frank e Plato (que terá o seu “disco perdido” lançado ainda esse ano), Frank oferece o seu quarto disco solo apenas dois anos depois do anterior. “Histórias excêntricas ou algum tipo de urgência” veio ao mundo como a coroação de um 2017 muito bom para Jorge, que abriu o show do Paul Maccartney em Porto Alegre. Conta a lenda que ele saiu dessa experiência tão energizado que foi direto ao estúdio do (também lendário) Thomas Dreher para registrar – com algum tipo de urgência – essas novas canções. Thomas conta que boa parte delas foi sendo composta em estúdio, na medida em que iam gravando.

Se no disco anterior “Escorrega mil vai três sobra sete” o compositor usou e abusou de guitarras pesadas, de inspiração noventista a lá Pavement e Superguidis, aqui os arranjos retornam às influências jovemguardísticas dos anos 60 e 70. As letras de estilo confessional são marca registrada do compositor, que neste álbum trata de temas do cotidiano pela perspectiva de um sujeito maduro, agora tranquilo, que já conhece o seu lugar no mundo e está bem resolvido com ele. A partir de observações prosaicas sobre temas como uma faxina em casa (S.O.S Maloca), por exemplo, Frank digressa sobre tarefas, lembranças e o sentido da vida: “a produção do conhecimento me pergunta se eu trabalhei, confesso que não sei, mas eu vivi (…) de agora em diante vou ficar mais em casa”. Em cada faixa há um refrão chiclete, cantável por qualquer brasileiro que conheça Roberto Carlos ou Reginaldo Rossi.

A força das canções também vêm muito do seu aspecto lúdico: Frank não é nenhum bobo alegre, mas sabe brincar e celebrar as pequenas besteiras que dão colorido à vida. Exemplo disso é o excelente refrão “A Renata Sorrah tá tri bem na novela, a Renata Sorrah tá demais!” (Estoque de Mancadas). Outras sacadas que são muito favorecidas pela disposição do Frank em brincar podem ser ouvidas em Comunicação (Era Especial), que mistura um bolero romântico, beirando o cafona, mas com uma melodia que poderia ser de Vivaldi ou Purcell, além de um solo de piano que é literalmente a apropriação do barroco pelos Beatles de In My Life. Assim, Frank toma parte nessa longa trajetória de interpretação, reinterpretação, inspiração e reciclagem que mantém a cultura humana em movimento.

E aqui cabe uma indicação para a melhor faixa do disco: Vida na Cidade (Allegro Ma Non Tanto). Ela desenvolve esse barroquismo ao incluir uma orquestração colorida e polifônica sampleada dos Concertos de Brandemburgo de Bach, em um feito notável de engenharia de som e produção de Dreher, apenas para desconstruí-lo em seguida, arrematando com uma fritação monofônica à lá Helter Skelter.

Há um estranho poder em saber quem se é. E o artista Frank Jorge sabe. Conhece seu som e o repertório de influências que ajudaram a defini-lo. Ele se apropriou dessas influências a ponto de torná-las uma marca registrada única, e é por isso que ele próprio se tornou para as gerações subsequentes uma referência tão grande quanto aquelas que lhe formaram em primeiro lugar. Em tempos de internet, a busca incessante pela última novidade quente pode ser um jeito a mais de se esconder. Quando se faz um mosaico de tudo ao mesmo tempo, o que se é de verdade? O disco Histórias Excêntricas ou Algum Tipo de Urgência não busca reinventar a música, o seu valor está na sua autenticidade, em se conhecer muitíssimo bem e em saber o que é: um disco pessoal de canções pop rock, que fala de coisas bonitas e tristes, sérias e engraçadas. Enfim, da vida bicho.

9.5

Histórias Excêntricas ou algum tipo de urgência – Frank Jorge

Gravadora: Selo 180

Frank Jorge é outra conversa. Pop, rock e afins de uma maneira que poucos conseguem!

Bruno Ruffier Cardoni

Bruno Ruffier Cardoni

Bruno Ruffier estuda filosofia e direito, tocou com os baby budas e plato divorak e tem um tataravô que inventou a batata.

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