Crônicas

Deftones, Logotipos e Cavalos Brancos

Esses dias eu estava a resenhar o álbum “Futuro” da Magüerbes. No meio da primeira ouvida (até eu terminar uma resenha acabo ouvindo o disco todo de ponta a ponta umas duas ou três vezes pelo menos) me peguei pensando: “Caralho, isso parece Deftones.” Normalmente eu teria continuado a ouvir o disco, mas naquela hora me bateu vontade mesmo de ouvir Deftones. Digitei “White Pony” no campo de busca do Spotify e comecei a ouvir álbum que a Rolling Stone listou como 66º maior álbum de metal da história.

É um discaço da porra em todos seus 52 minutos de glória, desde a primeira faixa, “Back to School (Mini Maggit)”.

Ouvi ele inteiro, de ponta a ponta, num momento raro em que eu me dediquei a unicamente ouvir a música e não fazer mais nada. Normalmente quando quero fazer isso, eu ponho um vinil e faço todo aquele ritual. Mas, na falta, dessa vez foi pelo Spotify mesmo. Antes de voltar ao disco da Magüerbes, parei no Twitter pra contar essa história e recomendar aos meus (poucos) seguidores a também ouvirem o “White Pony”. Postando o último tuíte, parei pra admirar a simplicidade e a eficiência da capa do disco, com o contorno do icônico pônei branco sobre um fundo branco e lembrei que foi ele que me atraiu à banda originalmente.

Lá pelos idos de 2002, eu era um rapaz imberbe, calouro de Ciências Sociais na Universidade Federal de Santa Catarina e estudava comigo uma moça que ia para a aula às vezes com uma camiseta vermelha com os dizeres “deftones” em branco. Eu nunca tinha ouvido a banda, embora conhecesse o nome. Mas aquele logo chamou minha atenção.

Em 2002 as coisas não eram tão fáceis quanto abrir o Spotify e procurar por uma banda. Eu ainda sofria porque o Audiogalaxy e o Napster estavam mortos ou morrendo e serviços como o eMule ou o Kazaa ainda eram muito incipientes. Mas, com algum esforço, consegui baixar algumas faixas esparsas justamente do seminal “White Pony”. Fui montando o álbum, faixa por faixa, até ouvir ele inteiro. Tudo porque as linhas simples e funcionais de um logotipo me atraíram. A capa do disco também me conquistou pela sua simplicidade e beleza. Dá quase pra ver a crina do pônei balançando enquanto ele cavalga.

Anos depois eu larguei as Ciências Sociais, assim como a garota da camiseta dos Deftones, e fui cursar Design, profissão a qual é atualmente o meu ganha-pão. Conheci por acaso um rapaz, amigo de amigos e também designer, que tatuou os contornos do famoso cavalinho branco por amor à banda, o significado do ícone e, principalmente, por amor à forma, ao desenho. Como designer ele era apaixonado pelo logotipo e por sua simplicidade, unindo a paixão pela sua profissão com a paixão pela música.

O logotipo dos Deftones é um de muitos logos incríveis. Tenho em casa um livrão glorioso de referência com uma compilação de logotipos de artistas de diversos gêneros, do rock ao pop, passando inclusive por aquelas coisas grotescas e complexas que as bandas de metal chamam de logo. São páginas e páginas de logotipos incríveis e, algumas poucas entrevistas com profissionais criadores desses símbolos maravilhosos e análises de alguns mais icônicos, como a inconfundível língua dos Rolling Stones. É um livro que eu recomendo tanto para profissionais de Design quanto para músicos e fãs de música. Muitas vezes essas coisas andam lado a lado. Já conheci muitos designers que tocavam em bandas e músicos que eram designers em horário comercial.

Uma boa banda e uma boa música podem, e devem, ser contemplados por um bom trabalho de Design e de arte. Simplesmente porque não adianta nada ter um som maneiro e gravar num estúdio fodão e ter a capa do seu disco em Comic Sans. Muitas vezes recebemos materiais que nem dão vontade de ouvir porque a capa é ruim, de mal gosto ou o logo da banda é bobo e infantil. Da mesma maneira, trabalhos gráficos interessantes chamam atenção, nos fazem criar expectativas e já nos fazem imaginar. Antigamente, quando as capas eram quadrados de 31,43cm², a preocupação era muito maior. Hoje, quando são alguns poucos pixels na tela do celular, parece que muitas vezes isso está sendo deixado de lado.

A música pode até ser o cartão de visitas da banda, mas na maioria das vezes, a primeira impressão é a capa do disco, ou, no meu caso, o logo na camiseta de outra pessoa.

Alexandre Aimbiré

Alexandre Aimbiré

Estudante de Letras, guitarrista de fim de semana, DJ ocasional, leitor ávido de Wikipédia e escritor de romances de gaveta. Manézinho de nascimento, criado em Porto Alegre e atualmente mora em São Paulo. Como todo bom crítico, já tocou em várias bandas que não deram em nada.

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