Resenhas

Resenha: Maria e o Cangaço – Trilha Sonora (2025)

Quando vi um post da cantora Karina Buhr sobre o lançamento da trilha sonora de “Maria e o Cangaço”, eu já tinha escutado o álbum inteiro.

Mas o silêncio da imprensa sobre essa jóia de trilha sonora da série produzida pela DisneyPlus é incômoda.

Com uma trilha sonora do mais alto nível, Maria e o Cangaço (a trilha sonora, pois ainda não assistimos a série) é um acerto do início ao fim.

Lembro de ter lido uma outra postagem da cantora Karina Buhr sobre o seu esquecimento em eventos e festivais (há alguns poucos anos atrás), o que traz uma lembrança ruim.

Para quem não conhece a cantora, compositora e percussionista, a mesma tem uma longa caminhada dentro da música brasileira. Fez parte da Eddie (Pernambuco) lá nos anos 90, construiu uma carreira estupenda dentro da Comadre Fulozinha, logo na sequência, para então cair na pista com uma proposta ousada e arriscada de uma carreira solo, sem rótulos, sem flertar com a MPB vigente e desbravando caminhos tortuosos dentro do cenário independente.

Porque toda essa prosopopeia para Karina, baiana, com alma pernambucana e com o coração fincado na música e percussão?

Porque a grama do vizinho, é sempre mais verde. É preciso uma série produzida pela Disney, com sangue, atores e músicos brasileiros, para olharmos para uma das mais talentosas artistas brasileiras.

Porque quando se aprecia a trilha sonora, a alma que encanta e traz o foco dos ouvidos e a atenção, é a voz dela. Um outro fio condutor de outro musico incrível que faz parte da trilha, também merece os devidos créditos, Beto Villares

Das 16 faixas, Beto, o onipresente está em 14.

Não à toa, é o produtor ao lado de Siba e a própria Karina no disco (que merecia uma edição física) e também em outras tantas trilhas sonoras brasileiras, como: “Abril Despedaçado”, “Bingo o Rei das Manhãs”, “Xingu”, “Cidade Baixa”, “O Ano Que Meus Pais Saíram de Férias”, entre tantas outras.

Mas, vamos a algumas faixas. Porque 16, é bem complicado esmiuçar.

“Quando Cheguei”, a faixa de abertura, é belíssima. Uma canção que diz exatamente a que veio, você sente a ternura e ao mesmo tempo, a aridez e a violência dormente na faixa, com a crescente da música, saindo da voz de Karina para crescer numa ascendente sonora.

“O Cangaço” é aquela imagem sonora sem precisar de muita explicação. Com pífanos, pontuando a música instrumental, novamente a faixa vai crescendo, perfazendo com percussão econômica e prática. Remi Chatain, faz um belo trabalho na faixa, como em outras.

Como se fosse uma outra introdução.

Em “Batizado” Beto Villares e Siba, tramam um encontro onírico, um passeio pelo histórico e geográfico cangaço.

Reparem que não assisti a série. Por mais que a impressão se desassocie da imagem, as melhores críticas são aquelas que permeiam outros sentidos.

“Fuga e Briga” é um novo embate entre Remi Chatain e Beto Villares. A prova viva que o cangaço e qualquer filme medieval, poderiam se encontrar. A música é universal, por isso, trilhas sonoras podem se encontrar nesses interregnos.

Aí vem, “Rapina”, uma canção para destruir corações. “A alma que chora, a dor que dói, nem é a de fora”. Uma frase que pontua e marca uma das mais belas canções do álbum.

“Rabeca de Lajedo” a décima canção, é puro Nordeste, sem precisar de muita explicação. É Brasil, é o Cangaço é ouro puro.

“Sobrou Nada” é a prova cabal que Karina é além de todas as explicações anteriores, uma cantora que consegue injetar romantismo e dor, sem pieguices numa canção.

Para fechar, “Sangue no rio”, um resumo do final da série, com um viés feminino ao findar da protagonista, mesmo sem ter visto, é totalmente autoexplicativo.

Uma trilha sonora para concorrer a prêmios e estar sendo exaltada ao lado de tantos ótimos trabalhos lançados e escondidos pelo nosso Brasil a fora.

https://www.instagram.com/karinabuhr

https://www.instagram.com/disneyplusbr

https://www.instagram.com/bvillis

9.7

Trilha Sonora – Maria e o Cangaço

Gravadora: Disney

Um encontro com os mais notaveis artistas contemporaneos de Pernambuco, com a ótica feminina!

Luciano Vitor

Luciano Vitor

Formado em direito, frequentador de shows de bandas e artistas independentes, colaborou em diversos veículos: Dynamite, Laboratório Pop, Revista Decibélica, Jornal Notícias do Dia, entre outros. Botafoguense moderado, carioca radicado em Florianópolis há mais de 20 anos.

Outras matérias deste autor