Cinema

O que faz de ‘O Eternauta’ uma das maiores apostas do ano na Netflix?

Prepare-se para nevar.

Mas não é qualquer neve. É uma tempestade radioativa, mortal, silenciosa e, no centro disso tudo, um homem comum tentando sobreviver.  Como qualquer um de nós.

O Eternauta, um dos quadrinhos mais cultuados da história da América Latina, finalmente ficou disponível no catálogo da Netflix no dia de hoje e conta com seis episódios. E se depender do histórico, do simbolismo e da atualidade de sua narrativa, estamos diante de um dos lançamentos mais promissores de 2025.

Baseada na obra-prima escrita por Héctor Germán Oesterheld e ilustrada por Francisco Solano López, a série valém além do que entretenimento sci-fi. Ela retrata um espelho brutal das angústias sociais e políticas de um continente em constante estado de alerta.

Publicada originalmente em 1957 na revista Hora Cero, O Eternauta foi visionária ao antecipar discussões sobre resistência, autoritarismo e sobrevivência coletiva. E agora, em tempos de crise global e vigilância tecnológica, o enredo parece mais atual do que nunca.

A adaptação da Netflix é protagonizada por Ricardo Darín, ícone absoluto do cinema argentino, no papel de Juan Salvo, um cidadão comum que se vê no centro de uma invasão alienígena e precisa liderar um grupo de sobreviventes pelas ruínas congeladas de Buenos Aires. A escolha do ator não é aleatória: Darín é sinônimo de densidade emocional e sua presença garante que a série fale tanto à cabeça quanto ao coração do público.

Com produção da K&S Films, mesma responsável por obras como O Segredo dos Seus Olhos e Relatos Selvagens, a série tem tudo para equilibrar fidelidade estética com uma potência narrativa, criativa como poucas à época. A fotografia promete contrastes gélidos e dramáticos, enquanto a direção se apoia no suspense psicológico e no ritmo tenso da HQ original.

Não se trata apenas sobre distopia: O Eternauta carrega a memória dos que desapareceram. O próprio autor, Oesterheld, foi sequestrado e assassinado pela ditadura argentina nos anos 70, assim como suas quatro filhas. O quadrinho, portanto, é também um testamento político. Por isso, se alguém ainda duvida do impacto que uma ficção científica pode causar, basta lembrar: às vezes, o inimigo não vem de outro planeta. Ele já está entre nós, disfarçado de normalidade.

Frederico Di Lullo

Frederico Di Lullo

Redator publicitário, letrólogo, jornalista & fotógrafo de shows, nasceu na Argentina, coleciona vinil, é fã incondicional de música e um exímio apreciador de artes degeneradas.

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