Coberturas

Alice In Chains no Solid Rock 2018

Nas semanas que antecederam o show do Alice In Chains do festival Solid Rock deste ano, eu montei uma playlist baseada nos setlists da banda em sua atual turnê, divulgando o mais recente e incrível álbum, “Rainer Fog”. O setlist variava pouco entre shows, o que facilitou bastante o meu trabalho. Então, passei essas semanas ouvindo essa playlist sem parar durante todo o horário comercial.

Esse era o meu nível de ansiedade em relação a ir a um show do Alice In Chains.

Ameaçava chover no Allianz Parque, mas, para a minha alegria, o tempo segurou e a capa de chuva que me acompanha em todos os shows desde o Lollapalooza de 2015 continuou em sua embalagem e dentro da mochila. Aos poucos foi anoitecendo e, com as luzes ainda apagadas soaram os primeiros acordes de “Check My Brain”, do primeiro trabalho sem o finado vocalista Layne Stanley, “Black Gives Way To Blue”. Daquele momento em diante ninguém parou. Cabeças e pés batendo, garotas com os cabelos vermelhos empacotadas em saias de couro dançavam e mãos se esticavam para cima, às vezes fazendo o popular chifrinho, às vezes um punho erguido. Dentro do previsto, a banda seguiu com “Again” e “Never Fade”, do álbum “Rainer Fog” deste ano. Aí veio a dobradinha “Them Bones” e “Dam That River”, faixas que abrem o clássico álbum “Dirt” e aí o povo começou a se mexer de verdade.

É normal o público reagir mais às canções clássicas e dar uma parada no material mais recente, mas apesar de aparentar menos empolgação, o público não parou nem por um instante. É claro que o estádio todo veio abaixo em “Man In The Box”, mas ninguém parou também em “Hollow” e “Stone”, do excelente “The Devil Put Dinosaurs Here”. Os riffs disparados pelo guitarrista Jerry Cantrell são tão cativantes que é impossível ficar parado.

Agora, é preciso fazer uma menção especial ao vocalista William DuVall. Era ele quem mais se mexia no palco, enquanto Cantrell ficou praticamente estático durante o show todo, o vocalista realmente parecia estar se divertido pra cacete no show. Uma crítica recorrente a ele é que ele não é Layne Stanley, uma crítica recorrente toda vez que uma banda muda de vocalista e geralmente injusta. No caso de DuVall é deveras injusta. Ele é um excelente cantor, e tem uma voz incrível, notadamente nas músicas em que ele não divide a harmonia com o também vocalista Jerry Cantrell, como “We Die Young”. Não obstante, ele é um dos raros integrantes negros em bandas de rock hoje em dia, um gênero que apesar de suas raízes na música negra é essencialmente branco, e isso é digno de nota.

As harmonias vocais, uma das características mais marcantes da banda enchiam o estádio todo, cantando como se fossem um só, notadamente em “No Excuses”, quando a banda fez uma homenagem aos finado Layne Stanley e ao baixista Mike Starr, e em “The One You Know”, música que Jerry Cantrell faz o vocal principal.

No final das contas, a minha playlist ficou muito próxima à do show, com apenas algumas músicas a menos, mas seguindo fidedignamente a ordem, de “Check My Brain” até “Rooster”. Ao contrário do show em Curitiba, dois dias antes na Pedreira Paulo Leminski, a banda não parou para o bis e seguiu o show direto. Jerry apresentou “Rooster”, a música que fecharia o show e na sequência “o poderoso Judas Priest”. Junto com “Down In a Hole”, “Rooster” foi um momento catártico e especial, com o público cantando junto, mãos com isqueiros e celulares com as lanternas ligadas levantados, formando o final perfeito para o show. Foi pouco mais de uma hora de muito peso, cabeças batendo, um pouco de nostalgia e eu riscando da lista mais uma das bandas que eu gostaria de ver antes de morrer.

Alexandre Aimbiré

Alexandre Aimbiré

Estudante de Letras, guitarrista de fim de semana, DJ ocasional, leitor ávido de Wikipédia e escritor de romances de gaveta. Manézinho de nascimento, criado em Porto Alegre e atualmente mora em São Paulo. Como todo bom crítico, já tocou em várias bandas que não deram em nada.

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