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Resenha: Menores Atos – Fim do Mundo (2025)

Sete anos. Esse foi o tempo que separou o grito de “Lapso” do impacto existencial de “FIM DO MUNDO”. E não foi pouco. De lá pra cá, o Brasil desabou, reconstruiu, pirou, renasceu, e o menores atos parece ter vivido cada uma dessas fases com a pele exposta. E mais: é o espelho de uma geração do hardcore brasileiro que não é mais “nova”, mas ainda pulsa com relevância.

Cria legítima da escola emocional forjada por nomes como Hateen, Sugar Kane e até mesmo CPM 22, o trio carioca formado por Cyro Sampaio (guitarra e voz), Celso Lehnemann (baixo) e Gustavo Marquardt (bateria), mostra que o tal “novo hardcore nacional” amadureceu e isso é longe de significar acomodação. “FIM DO MUNDO” não tem medo de experimentar, de sentir, de ser contraditório. É um disco que aceita quebrar a própria fórmula para encontrar sentido em tempos de colapso.

Dividido em três atos: “VAZIO”, “EM DEMOLIÇÃO” e “DEPOIS DO SOL E DA CHUVA”, o álbum se assume como uma narrativa sobre ruína e reconstrução. E esse ciclo não é apenas conceitual: ele é sonoro, lírico e visceral. Há momentos de opressão sônica que remetem à urgência do post-hardcore que os consagrou, mas também há respiros, silêncios preenchidos por beats eletrônicos, violões e camadas que beiram o dream pop. A faixa “gravidade”, com Ale Sater (Terno Rei), é um bom exemplo disso. As letras, como sempre, são o ponto de ancoragem emocional.

Mas há riscos. Ao apostar em amplitudes e texturas diversas, o menores atos se expõe à crítica da dispersão. Fãs mais puristas talvez estranhem faixas mais limpas ou acessíveis. Mas a verdade é que esse é um disco que se recusa a viver no passado. Ele sabe de onde veio, mas quer descobrir para onde vai.

“FIM DO MUNDO” é, no fim, sobre esse limbo entre ruína e recomeço. É sobre amadurecer sem se render.

E nesse processo, o Menores Atos entrega um dos trabalhos mais densos e inventivos do hardcore brasileiro contemporâneo.

7.1

Fim do Mundo – Menores Atos

Gravadora: Deck

Sete anos separam o hardcore visceral de "Lapso" do amadurecimento experimental de "FIM DO MUNDO", um reflexo sonoro da turbulenta jornada do Brasil e da própria banda Menores Atos. Transitando entre a urgência do post-hardcore e novas texturas, o álbum narra a ruína e a reconstrução, consolidando a banda como um dos nomes mais inventivos do hardcore nacional do novo século.

Frederico Di Lullo

Frederico Di Lullo

Redator publicitário, letrólogo, jornalista & fotógrafo de shows, nasceu na Argentina, coleciona vinil, é fã incondicional de música e um exímio apreciador de artes degeneradas.

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