Adeus ao Maldito: a despedida de Luiz Antônio Mello, ícone do rock e do rádio
Dia 30 de abril, uma quarta-feira cinzenta em Niterói, no Rio de Janeiro, o rádio brasileiro silenciou por um instante. Luiz Antônio Mello, o LAM, morreu aos 70 anos, vítima de uma parada cardíaca durante um exame de ressonância no Hospital Icaraí. A cidade declarou três dias de luto. O jornalismo, o rock e a alma sonora dos anos 80 perderam uma de suas vozes mais vibrantes.
Você gosta de ouvir rock nas rádio? Curte o som das bandas brazucas dos anos 80? Então você deve isso ao Luiz Antônio Mello.
LAM não foi apenas um jornalista. Foi um agitador cultural, um visionário de microfone em punho, alguém que olhava para o dial e via possibilidades onde outros só viam estática. Em 1981, com vinte e poucos anos, ele criou o projeto da Fluminense FM, a lendária “Maldita”, que não só mudou a história do rádio, mas também ajudou a escrever capítulos essenciais do rock brasileiro. Foi ali que nomes como Kid Abelha, Paralamas, Legião, Barão e tantos outros deixaram de ser promessas para se tornarem trilha sonora de uma geração. Foi na Maldita onde “Vital e sua moto” tocou pela primeira vez, e a partir dali, tudo virou história.
Luiz Antônio passou por grandes redações, como a Rádio Tupi, Jornal do Brasil, Última Hora e outras, mas foi no improviso criativo da Fluminense que ele encontrou sua frequência ideal. A rádio virou refúgio de rebeldes, antena dos inconformados e dos estranhos. Em 2024, essa história ganhou as telas com o filme “Aumenta que é rock’n’roll”, em que LAM foi interpretado por Johnny Massaro. Um tributo à altura de quem moldou, com ideias e som, uma era. Vale a pena assistir e tem na Globoplay.
Ele também foi escritor, cronista da alma niteroiense e do jornalismo em carne viva. Autor de livros como “A Onda Maldita” (recomendo) e “Manual de Sobrevivência na Selva do Jornalismo”, entre outros, LAM entendia que a notícia podia ter ritmo, e que o rádio era mais que locução, era performance, resistência e arte.
Nos últimos anos, manteve viva a paixão pelo som com a Rádio LAM online e pulsante 24 horas por dia. Mesmo fora do mainstream, não deixou de acreditar na força da boa música e da palavra afiada, pois ele era um criador incansável que fazia do jornalismo uma guitarra elétrica.
A morte de Luiz Antônio Mello não é só o fim de uma vida, é o fim de uma frequência rara. Aquele tipo de sintonia que ligava a gurizada à revolução sonora, e a notícia à rebeldia. Mas seu legado permanece: está nas ondas do rádio, nos acordes do rock nacional, nas páginas de seus livros e na memória afetiva de quem, um dia, aumentou o volume porque ele mandou: “aumenta que é rock’n’roll!”.
Particularmente, como um declarado fã da finada Rádio Ipanema FM, de Porto Alegre, e identificada no mesmo dial da maldita Fluminense, o icônico número “94.9”, presto esse singelo tributo ao LAM. Passou alguns dias, mas consegui escrever. Vá em paz, LAM, e muito obrigado por moldar a minha personalidade e com certeza, de muitas outras pessoas. Sei que cada vez que plugarem uma guitarra no amplificador, sua alma estará ali, viva, pulsante e em alto e bom som.
Créditos da foto: Mariana Vianna