Resenhas

Resenha: Canábicos – Intenso (2017)

Quando tirei Intenso do baú para resenhar, fiquei surpreso ao descobrir que este é o quarto disco da Canábicos. Liderada pelo ex-Uganga Murcego González — que na época ainda era integrante da banda de metal —, o grupo em alguns momentos soa como os veteranos que são, mas, na maior parte dos pouco mais de trinta minutos do álbum, lembram mais uma banda de garagem. Intenso soa como um disco gravado em estúdio pequeno, cheio de ideias mal acabadas, timbres genéricos e uma produção que mais atrapalha do que ajuda.

Logo de cara, “Planeta Estranho” entra com uma guitarra que parece ter sido gravada num amplificador Meteoro de 25W. Um riffão genérico em escala de blues abre o caminho e logo é dobrado por uma segunda guitarra. O baixista MM entra na sequência, acompanhado por uma bateria chocha, frágil e anêmica. Vejam bem: não estou questionando a técnica ou competência dos músicos. Vou até ignorar os solos por ora (eles sempre tem notas a mais que talvez não devessem estar ali), mas no geral o instrumental é bem executado. Não há nada de especial na bateria, mas ela é marcada e competente. Faltam umas viradas aqui e ali, mas nada que desabone tanto o produto. O problema mesmo são os timbres. Enquanto nas guitarras eles são genéricos, o baixo e a bateria soam achatados, sem personalidade nem ambiência. Só um caminhão de médios que sufoca a audição.

Vou deixar claro: eu sei que escrever em português é difícil pra cacete — ainda mais poesia ou letra de música. Mas o fato é que Intenso tem algumas das letras mais preguiçosas que ouvi nos últimos tempos. As rimas soam batidas, como se tivessem sido escolhidas às pressas só pra fechar a métrica. Morrer/ver, controlar/preocupar, mão/rejeição/confusão… é uma infinidade de rimas pobres. Tudo parece muito previsível, sem qualquer jogo de linguagem que dê profundidade às letras. É como se a banda tivesse escolhido o caminho mais fácil em todos os momentos, sem se preocupar em realmente comunicar algo além da superfície. No fim, tudo soa genérico demais pra causar qualquer impacto.

Talvez o maior problema de Intenso, com o perdão do trocadilho, seja justamente a falta de intensidade. A energia que deveria impulsionar o álbum fica sufocada entre um caminhão de médios e letras que poderiam ter sido escritas por um adolescente entediado. O momento que melhor sintetiza essa falta de força está em “Fora da Lei”, aos 1:54, quando o vocalista André Clandestino solta um urro que era pra ser catártico, mas soa vazio. Não carrega energia, não empolga, não leva a lugar nenhum. E Intenso é exatamente isso: um disco que promete muito no nome, mas entrega pouco — e sem fôlego.

6.0

Intenso – Canábicos

Gravadora: Monstro Discos

Rimas pobres, médios demais e um disco, que apesar do nome, não tem intensidade alguma.

Alexandre Aimbiré

Alexandre Aimbiré

Estudante de Letras, guitarrista de fim de semana, DJ ocasional, leitor ávido de Wikipédia e escritor de romances de gaveta. Manézinho de nascimento, criado em Porto Alegre e atualmente mora em São Paulo. Como todo bom crítico, já tocou em várias bandas que não deram em nada.

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