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Cinema

Crítica: Pecadores (2025)

Ryan Coogler, já cravou o seu nome dentro do imaginário pop em 2018, com o fantástico “Pantera Negra”, um filme sobre o super-herói negro da fictícia Wakanda, localizada na África.

Sempre ligado as questões de enaltecimento da cultura e população negra, Coogler foi responsável também por outra obra prima (pouco conhecida, infelizmente) lá em 2013, “Fruitvale Station: Próxima Parada”, baseado em uma história real.

O que as três obras e “Pecadores” têm em comum? Além do diretor, o ator Michael B. Jordan, e a temática sempre presente na cinematografia, as injustiças sociais, o racismo (na maioria das vezes nada velado), a luta e em segundo plano nos primeiros filmes, a música, que em “Pecadores”, se torna um dos motes principais.

“The Sinners” traz papéis memoráveis para: Michael B. Jordan, Miles Caton, Delroy Lindo, Wunimi Mosaku, Hailee  Steinfeld e Jack O´Connel, a composição perfeita entre o bem e o mal. Personificando novamente, o mal de uma maneira diferente.

O que é o mal? Se o próprio é tão vítima de conquistadores e colonizadores, quanto os negros também (vítimas, porém buscando sua redenção) são no filme?

A diferença entre um lado e outro, é mínima. Não existe o certo e o errado. Existem vítimas de centenas de anos de colonialismo, doutrinação e porque não, religiosa?

Mas esqueçam aqui, o vitimismo, não é sobre isso que se trata. Como em todos os filmes de Coogler, os personagens são protagonistas, sejam buscando a redenção ou seja seu próprio espaço.

Em “Pecadores” as entrelinhas são as vezes mais importantes que o próprio enredo. Porque são nelas que podemos enxergar as mazelas dos descendentes escravizados na América KKK do início do século 20, a influência da religião, a marginalização dos negros e também de outros grupos étnicos. Entender também o caldeirão cultural que já se mostrava efervescente há quase 100 anos.

Existem inúmeras cenas que se tornam icônicas dentro do filme, mas com toda a certeza, a cena onde os diversos gêneros musicais oriundos da história negra se encontram dentro de um celeiro, é sem dúvida alguma, transcendental. É o cinema abraçando a música de maneira visceral, quase que um resumo, da potencialidade da Mãe África encontrando na diáspora e seus descendentes, uma válvula de escape para o que a música negra se transformaria a partir dali.

Transformar a história em filme de terror ou filme de vampiros, é ser ignorante no que Coogler realmente quis mostrar, um filme que traça um recorte impressionante da América KKK, dos anos 20, e principalmente que a música é um dos motes mais fortes dentro do cinema.

A religião também tem papel importante dentro dessa obra recente. Não é falado ou descrito em qualquer momento, a religião de matiz africana, conhecida no Brasil como Umbanda, Quimbanda, ou popularmente como Macumba. Mas em determinadas cenas da película, o famoso “patuà” está ali, em contrapartida com uma oração católica.

Mais Ryan Coogler, impossível!

Ps. A alegria de ver um dos últimos ícones do blues vivo, no final do filme é impactante. O cantor e esporadicamente ator, foi uma das lendas que pude assistir ao vivo com meus parcos 18 anos, num Festival de Blues, no Rio de Janeiro, no lendário Circo Voador!

Luciano Vitor

Luciano Vitor

Formado em direito, frequentador de shows de bandas e artistas independentes, colaborou em diversos veículos: Dynamite, Laboratório Pop, Revista Decibélica, Jornal Notícias do Dia, entre outros. Botafoguense moderado, carioca radicado em Florianópolis há mais de 20 anos.

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