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Cinema

Crítica: Vitória (2025)

“Vitória” chega aos cinemas no rastro do Oscar e do estrondoso sucesso de “Ainda Estou Aqui”, sem falar de Fernanda Montenegro novamente no elenco, desta vez como estrela principal. Mas encaixar o filme de Andrucha Waddington e Breno Silveira como mero herdeiro do hype seria enorme injustiça, pois sobram méritos à obra, o maior deles, encapsular uma triste realidade vivida por milhares (milhões) de brasileiros: a da violência como parte da rotina.

Com uma história real para se inspirarem, os diretores têm essa idosa frágil, mas indignada e corajosa, para representar o cidadão feito refém pela criminalidade, cujo lar é profanado por rajadas de balas e de onde vê seu antes tranquilo bairro ser tomado por traficantes.

O dilema proposto – se calar diante da tragédia ou enfrentá-la, colocando a vida em risco – é apimentado com doses de nostalgia, preconceito, medo e corrupção policial, ampliando a noção de decadência social, ainda mais perceptível do ponto de vista de alguém que já viveu tanto. “Vitória” poderia ser apenas uma crítica a inércia do Estado, mas seu drama cru e angustiante reverbera fácil entre quem percebe a bandidagem e a insegurança prosperarem nas ruas. E não há como ignorar: ter Fernanda Montenegro como pilar dessa percepção, segurando o filme quase sozinha com uma performance monstruosa aos 95 anos, faz o eco da revolta chegar bem mais longe.

Onde achar: Nos cinemas

Assista também: Central do Brasil (1998)

Rubens Herbst

Rubens Herbst

Joinvilense, jornalista há três décadas, pai da Sofia e marido da Cris, uniu o útil ao imprescindível no jornalismo cultural. Depois da coluna Orelhada (AN), do programa É Rock! (Udesc FM) e de inúmeras colaborações aqui e ali, segue fazendo o que mais gosta: ouvir rock, ver filmes, ler, assistir a shows e peças, escrever e comunicar. No tempo que sobra, sofre pelo JEC.

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