Crítica: Vitória (2025)
“Vitória” chega aos cinemas no rastro do Oscar e do estrondoso sucesso de “Ainda Estou Aqui”, sem falar de Fernanda Montenegro novamente no elenco, desta vez como estrela principal. Mas encaixar o filme de Andrucha Waddington e Breno Silveira como mero herdeiro do hype seria enorme injustiça, pois sobram méritos à obra, o maior deles, encapsular uma triste realidade vivida por milhares (milhões) de brasileiros: a da violência como parte da rotina.
Com uma história real para se inspirarem, os diretores têm essa idosa frágil, mas indignada e corajosa, para representar o cidadão feito refém pela criminalidade, cujo lar é profanado por rajadas de balas e de onde vê seu antes tranquilo bairro ser tomado por traficantes.
O dilema proposto – se calar diante da tragédia ou enfrentá-la, colocando a vida em risco – é apimentado com doses de nostalgia, preconceito, medo e corrupção policial, ampliando a noção de decadência social, ainda mais perceptível do ponto de vista de alguém que já viveu tanto. “Vitória” poderia ser apenas uma crítica a inércia do Estado, mas seu drama cru e angustiante reverbera fácil entre quem percebe a bandidagem e a insegurança prosperarem nas ruas. E não há como ignorar: ter Fernanda Montenegro como pilar dessa percepção, segurando o filme quase sozinha com uma performance monstruosa aos 95 anos, faz o eco da revolta chegar bem mais longe.
Onde achar: Nos cinemas
Assista também: Central do Brasil (1998)