O Emo não morreu! Polifonia EMO VIVE na Audio
Depois de passar por Porto Alegre e Rio de Janeiro nos dias 4 e 6 de junho, respectivamente, a última parada da edição “Emo Vive” do festival Polifonia aconteceu em São Paulo nos dias 7 e 8.
Cheguei na Áudio faltando alguns minutos para as 15h e já encontrei algumas pessoas na fila, aguardando a abertura do portão. O dress code denunciava que eu estava no lugar certo: roupas xadrez, quadriculadas e listradas; camisetas de banda e jeans surrados; cores como vermelho, preto e branco. Bonés, cabelos coloridos e as famosas franjas de lado também não faltaram desde o momento em que pisei no evento.
Pude notar também uma boa quantidade de millennials no geral, e me senti genuinamente feliz por ver tanta gente da mesma época que a minha vestida a caráter para celebrar a permanência do emo na cena musical.
O emo não morreu. Está mais vivo do que nunca, aliás.
Por volta das 15h25, pouco depois da abertura do evento, a banda Morro Fuji subiu no palco com energia, apesar das poucas pessoas presentes naquela hora. Os cinco integrantes entraram cheios de atitude, e o estilo das roupas — de bom gosto e visualmente harmonioso — me causaram um impacto positivo. O público estava tímido, mas receptivo. Alguns conheciam a Morro Fuji; outros, como eu, apenas se deixaram levar pelo som.
O único problema foi a acústica, que estava ruim e comprometeu bem a apresentação do grupo, pois estava difícil entender as letras e a interação deles com a plateia. A impressão não foi só minha. Comentei com outra pessoa ao meu lado e a percepção foi a mesma. Uma pena, porque as vozes e a melodia soaram promissoras. A banda inclusive tocou faixas novas, e fiquei interessada em ouvi-las quando chegasse em casa.
No intervalo, fui comprar algo para comer e, ao voltar, o Hateen já estava no palco. O pequeno grupo que acompanhava o show anterior agora era um aglomerado mais numeroso.
Os paulistanos tocaram o setlist inteiro em português, com onze músicas e muita presença de palco — e eu me perguntei por que nunca tinha assistido a um show deles antes. O retorno de som já não apresentava o mesmo problema da apresentação anterior, e os caras, além de carismáticos, fizeram grande parte do público cantar e levantar as mãos, principalmente durante as pedradas “Quem Já Perdeu um Sonho Aqui?” e “1997”.
Depois da apresentação que me deixou bem saudosa, começaram os shows das bandas internacionais. Os norte-americanos do Mae foram os primeiros do trio de grupos estadunidenses e subiram ao palco por volta das 17h15. Uma voz ressoou um sonoro “We love you” durante o intervalo entre uma música e outra. Isso foi o bastante para que o vocalista, Dave Elkins, interagisse com o público, devolvendo o cumprimento com um “We love you too” muito agradecido. Revelou que era a primeira vinda deles ao Brasil e que estavam muito felizes.
As músicas tiveram uma recepção calorosa, com o público vibrando e cantando junto os sucessos mais conhecidos. Diferente das bandas que viriam depois, Emery e Anberlin, o som do Mae era mais melodioso. Gostei muito da presença dos integrantes e fiquei especialmente encantada pela interação do baixo e do teclado com os outros instrumentos.
Foi mais ou menos no meio da apresentação que uma moça quebrou a harmonia e tentou forçar passagem até a grade, bem na minha frente. Fiquei frustrada, mas isso durou pouco. Minha heroína não usava capa — mas sim boné e franja — e expulsou a garota dali com bastante rigidez, o que pensei que iria virar até uma briga maior, pois aconteceu uma pequena discussão, mas felizmente não passou disso. Só fez mesmo com que a “fura-fila” desistisse do plano.
Àquela altura, já éramos um grupinho unido em prol de uma boa experiência, inclusive ajudando uns aos outros a pegar itens jogados do palco, como baquetas, setlists, etc.
Ao contrário do Mae, que tocou com mais calma e bebia chá gelado durante a apresentação, a banda Emery já começou o show com a energia lá em cima, bebendo Xeque Mate e fazendo muito barulho. Eles combinavam em tudo: vozes gritadas, num estilo mais agressivo que casava com o som; uniformes compostos por calça e casaco tipo de ginástica; e muita movimentação pelo palco. Cheguei a ver a Sky, filha do Lucas Silveira, lá no fundo tapando os ouvidos — era barulhento mesmo (no melhor sentido). Com exceção de duas das dez músicas tocadas, se não me engano, todas as outras foram nesse pico de energia.
Destaco aqui a performance do divo Matt Carter, guitarrista. O homem era uma bala. Não parava por nada, nem quando ficaram apenas dois integrantes cantando uma faixa mais calma — e ele aproveitou para filmar a performance dos colegas e a reação do público. Além disso, autografou o encarte de um fã e coletou assinaturas de outros integrantes pelo palco, antes de devolvê-lo.
Embora o estilo musical da banda à primeira ouvida não parecesse muito a minha cara, considerei dar uma chance de ouvir mais deles em casa — e me surpreendi muito positivamente (gostei muito) — depois de ver como eles interagiam com o público e se mostravam genuinamente felizes por estarem ali — tanto que assistiram ao show da Fresno do lado do palco. Assim como as outras bandas, percebi quais eram as canções mais populares pela forma como o público reagia, pois eram as mais cantadas, como pude perceber diversas vezes olhando ao redor.
Pouco depois das 20h, o palco escureceu e o som literalmente estrondou, daqueles que você sente as ondas sonoras invadirem os tímpanos. O Anberlin subiu ao palco com a mesma energia da apresentação anterior, entregando um som igualmente agressivo e vozes tão marcantes quanto. O show foi excelente, ouvi bastante gente cantando várias entre as catorze músicas tocadas e literalmente “batendo cabelo”, o que, inclusive, eu também fiz.
No quesito presença de palco, todas as bandas foram maravilhosas, e com o Anberlin não foi diferente. Os integrantes conversaram com o público e se mostraram empolgados por estarem de volta ao Brasil após dez anos. A apresentação foi um ótimo gás antes da entrada da headliner Fresno. Aliás, o festival inteiro teve uma progressão muito interessante até esse momento final.
Por fim, por volta das 21h30 chegou o momento que muitos ali aguardavam: A Fresno. Esse show foi como abrir um relicário de memórias, com um repertório repleto das músicas mais populares do início da carreira da banda, contemplando os álbuns Quarto dos Livros, O Rio, A Cidade, A Árvore e Ciano. Foi bonito ver todo mundo cantando com tanta emoção, compartilhando a melancolia das letras por meio da potência vocal.
Lucas e Vavo interagiram bastante, relembrando momentos marcantes da trajetória do grupo e dividindo curiosidades sobre os primeiros álbuns como, por exemplo, a autoria do irmão do vocalista nas capas dos primeiros álbuns.
Faixas como “Stonehenge”, “Duas lágrimas”, “Verdades que tanto guardei”, “Alguém que te faz sorrir”, “Cada poça dessa rua tem um pouco de minhas lágrimas” e “Quebre as correntes” foram os pontos altos da apresentação, contribuindo para um show intimista e carregado de representação emocional, tanto para os fãs, quanto para Lucas e companhia.
Ao fim do show, os integrantes da Fresno chamaram o pessoal do Emery para se juntar à folia no palco, enquanto agradeciam e estendiam uma bandeira com os dizeres “Emo Vive”. Jogaram também vários itens para o público, como baquetas, palhetas e até copinhos de café desenhados pela Sky para os fãs.
Foi uma tarde e noite incríveis. A única coisa de que senti falta foi a apresentação das bandas, integrante a integrante. A Fresno foi a única que realmente fez isso, e teria sido legal se todos tivessem feito o mesmo, considerando que era um festival e nem todo mundo conhecia todos os grupos, inclusive eu. Novamente, chequei impressões com pessoas perto de mim disseram o mesmo.
Tirando isso e a acústica ruim da primeira banda, com certeza eu iria a outras edições do festival. Foi tudo muito organizado e acolhedor. Houve foco nas bandas e bastante interação de ambas as partes, independente se o público conhecia ou não quem estava ali em cima. A aceitação foi muito positiva e me senti bem tratada por todos, desde a segurança na entrada, os recepcionistas e a atendente do caixa, até os músicos e suas interações com o público (houve até tentativa de falar português por um deles).
E por isso tudo eu repito: o emo vive. E passa muito bem, obrigada.