O poder é dela: Gossip no C6 Fest 2025
Com presença magnética e voz avassaladora, Beth Ditto encarnou o Real Power em cada refrão.
Em meio a tantos artistas renomados, ninguém chamou mais atenção que a Gossip e a vocalista Beth Ditto. Quando a banda entrou no palco, todos os olhos estavam voltados para ela e seu bodysuit de oncinha. Não demorou muito para todos os ouvidos serem fisgados pela sua voz potente e maravilhosa. Anoitecia no Parque do Ibirapuera e a Tenda Metlife foi transformada numa pistinha indie. Em todas as direções só se viam pessoas como eu e meus amigos, que ouvimos e dançamos a tantas músicas da banda ao longo das primeiras décadas deste milênio.
A banda circulou entre hits, como “Four Letter Word”, “Love Long Distance” e “Heavy Cross”, e canções do mais recente álbum, Real Power, lançado no ano passado após o retorno da banda. Mesmo com o setlist alternando entre o novo e o consagrado, o show teve unidade: tudo girava em torno da presença magnética de Beth. Carismática, falante e cheia de energia, ela transformou a apresentação em algo mais do que uma mera compilação de sucessos. O público respondeu à altura, dançando, gritando e aplaudindo a cada refrão. A nostalgia era palpável, mas havia algo além disso. O público estava de fato se divertindo enquanto absorvia cada segundo do espetáculo.
A competência do restante da banda mantinha todos energizados. A baterista Hannah Billie era um metrônomo loiro e firme, sustentando o ritmo para a pista inteira dançar sem preocupações. O guitarrista Nathan Howdeshell com sua SG vermelha era o maestro, tocando e dançando incansavelmente os riffs que sustentavam a voz de Beth. A química entre eles era palpável. Os grooves do baixista Ted Kwo e as pernas impossivelmente longas da guitarrista e tecladista Bijoux Cone, os músicos que acompanham o trio “oficial” nesta turnê, também foram instrumentais para a solidez do show.
O carisma de Beth Ditto é surpreendente e contagiante. O momento mais icônico do show, mais que qualquer música, foi quando Beth contou que conhece apenas duas palavras em português: “obrigado”/“obrigada” e “bunda!” — assim mesmo, uma exclamação, com direito a um tapinha e tudo. A história curiosa de como ela foi apresentada à palavra por uma intercambista paulistana quando ainda estava no colegial arrancou risadas do público. Foi nesse tom, entre o escracho e o afeto, que Beth comandou o show do começo ao fim. Ela faz do palco um espaço de liberdade, bom humor e uma dose saudável de exagero. Uma diva que passou a maior parte do show dançando descalça e se conectou genuinamente com o público. Não só pela sua voz, mas pela entrega e pela vulnerabilidade.
Apesar dos quase dez anos de hiato, a Gossip soa atual — talvez até mais relevante agora do que nos anos 2000. No C6 Fest, o que vimos foi o Real Power de uma banda que nunca perdeu a essência, e de uma vocalista que entrega completamente no palco. O salto foi abandonado antes da metade do show, os cílios postiços caíram, a maquiagem derreteu, mas Beth, seu penteado e sua voz seguiram firmes, como se nada pudesse derrubá-los.