Coberturas

Pearl Jam no Lollapalooza 2018

Há muitos anos eu repito para mim mesmo uma pergunta: “Porquê o Pearl Jam não é a minha banda favorita?”. Toda vez que eu ouço “Courduroy” ou “Love Boat Captain” eu me pergunto isso. No segundo dia do Lollapalooza Brasil 2018, depois de a banda entregar um dos melhores shows que eu já assisti, eu me perguntei novamente porque talvez a maior banda de Seattle não é a minha favorita.

A banda tradicionalmente não toca com setlist fechado e escolhe músicas diferentes para tocar em cada show. Depois de pouco mais de uma hora ouvindo os uivos gravados de Eddie Vedder que tocavam no fundo de um anuncio de um programa de recuperação da Amazônia que a banda patrocinava, ou coisa assim, a banda começou com “Wash” e logo engatou e veio uma sequência incrível, com “Courduroy”, “Do The Evolution” e “Why Go”. Nessa hora eu já estava sem voz e com lágrimas no rosto.

Talvez a mensagem mais importante da noite veio logo após eles tocarem a politicamente carregada “Can’t Deny Me”, música que a banda lançou dias antes de embarcar para os shows na América do Sul e no Brasil. Antes de tocar a música Eddie Vedder, largando sua folha A4 com dizeres em português, nos lembrou da marcha dos estudantes americanos pelo controle de armas e, literalmente, por suas vidas. Assim que ela acabou, ele olhou para o público e disse: “Você não precisa pegar um fuzil automático para se sentir poderoso. Se você quer se sentir poderoso porque você não pega uma guitarra e um aplificador? Mike, mostre a eles o que você pode fazer com uma guitarra.”, e o guitarrista Mike McCready disparou o riff inicial de “Even Flow”, em um dos momentos mais descaralhantes do show.

Outro entre muitos momentos fantásticos do show veio logo em seguida, quando a banda tocou “Parabéns pra você” para Perry Farrell, fundador do festival e vocalista do Jane’s Addiction. Foi engraçado ver Vedder desistindo de ler suas guias em português, impressas em uma folha A4, quando anunciou que iriam fazer uma surpresa ao seu amigo. Depois tocaram “Moutain Song”, música do primeiro álbum do Jane’s Addiction, com Farrell nos vocais. Também rolou uma homenagem ao ex-Talking Heads, David Byrne, que havia tocado algumas horas antes no Palco Ônix, na forma de um cover de “Pulled Up”. Eles também fizeram cover de “Confortably Numb” do Pink Floyd e “Baba O’Riley” do The Who, já tradicional no setlist da banda.

Mas o show não foi feito só de covers. Foram tocadas músicas de toda a carreira da banda, de praticamente todos os álbuns, desde hits até músicas mais desconhecidas. Mas mais que as músicas e as memórias, é uma experiência incrível ver uma banda madura como o Pearl Jam no palco. Mais que uma banda madura, uma banda que soube envelhecer, ao contrário de muitas bandas contemporâneas. E os hits não paravam. Eu havia me esquecido que eram tantos e vinham um atrás do outro.

A banda encerrou com “Yellow Ledbetter”, que não foi até o final por causa do horário de encerramento do festival, mas o público continuou sem eles. Enquanto a banda se despedia, nós cantávamos, com lágrimas nos olhos. Ainda não sei porque o Pearl Jam não é a minha banda favorita, mas talvez devesse ser.

Alexandre Aimbiré

Alexandre Aimbiré

Estudante de Letras, guitarrista de fim de semana, DJ ocasional, leitor ávido de Wikipédia e escritor de romances de gaveta. Manézinho de nascimento, criado em Porto Alegre e atualmente mora em São Paulo. Como todo bom crítico, já tocou em várias bandas que não deram em nada.

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