Coberturas

The Amity Affliction no Carioca Club

Uma hora de pura energia. Assim foi o show da banda australiana Amity Affliction ontem, no Carioca Club, em São Paulo. Conhecida por misturar peso, melodia e letras confessionais, a banda fez uma performance competente e carregada de peso. A energia não estava só no palco, ela reverberava por todo o espaço. O público cantou junto todas as músicas durante o show todo. De braços erguidos, os presentes absorviam cada verso como se fosse um desabafo coletivo, enquanto o pedal duplo soava ininterruptamente.

O som ambiente tocava Bon Jovi quando, pontualmente às 20h, a banda entrou no palco e iniciou o set com “Pittsburgh”. Debaixo de um boné preto cobrindo parte do rosto, o vocalista Joel Birch imediatamente se entregou à performance. Andando de um lado pro outro, dançando e interagindo com a plateia do alto de uma plataforma, o vocalista liderava o show mesmo nas partes melódicas — tradicionalmente cantadas por Ahren Stringer, que deixou a banda recentemente. No lugar dele, quem assumiu o baixo e os vocais limpos foi Jonathan Reeves, agora oficialmente parte da formação. Antes de “All My Friends Are Dead”, Joel pediu uma “circle pit”, a popular roda punk. Curiosamente, já tinham se passado uns bons vinte minutos de show e ainda não tinha se formado até ali. O pedido foi prontamente atendido e a roda abriu instantaneamente no meio da pista.

Pouco depois, com um pedido de desculpas pelo “português ruim”, Joel Birch dirigiu-se ao público e perguntou se nós gostaríamos de ouvir uma música nova. Após uma sonora aprovação, a banda apresentou a inédita “All That I Remember”. A música foi bem recebida, mas a ausência de Ahren Stringer foi sentida nesse momento. Não pela performance em si, já que Jonathan Reeves segurou os vocais com competência, mas pelo conteúdo da letra. A canção traz referências claras ao vício, um problema recorrente na vida Stringer — e de outros membros da banda. Stringer enfrenta problemas com substâncias há anos e isso foi a principal razão pela sua saída da banda, tornando a música ainda mais carregada de significado para quem acompanha a Amity Affliction de perto.

Apesar de o trabalho mais recente da banda ser Not Without My Ghosts, lançado em 2023, o Amity Affliction apresentou um repertório variado, passando por diversos momentos da carreira. Apenas duas faixas do novo álbum entraram no setlist — “It’s Hell Down Here” e “I See Dead People”. O destaque ficou por conta de Let The Ocean Take Me, o álbum mais popular dos australianos, representado por faixas como “Don’t Lean On Me”, “The Weigh Down” e a já mencionada “Pittsburgh”. Todas entoadas em coro pelos fãs.

Ao longo do show, Joel Birch mencionou diversas vezes os oito anos desde a última passagem da banda pelo Brasil. Talvez tocado pela resposta calorosa do público, ele chegou a dizer que não entendia como tinham demorado tanto para voltar. Entre músicas, fez questão de agradecer a presença de todos e prometeu mais de uma vez que o Amity Affliction retornaria em breve, quem sabe já no ano que vem. Se depender da energia trocada no Carioca Club, a espera da próxima vez deve ser bem mais curta.

Alexandre Aimbiré

Alexandre Aimbiré

Estudante de Letras, guitarrista de fim de semana, DJ ocasional, leitor ávido de Wikipédia e escritor de romances de gaveta. Manézinho de nascimento, criado em Porto Alegre e atualmente mora em São Paulo. Como todo bom crítico, já tocou em várias bandas que não deram em nada.

Outras matérias deste autor