Incêndio Cultural

A verdade do Punk, umas notas de noise e o recuo do Dead Kennedys

Escuto o penúltimo trabalho de Lê Almeida (Oruara que teve disco lançado em dezembro de 2018) e rapidamente fiz a conexão com um ícone do movimento punk mundial, os Dead Kennedys, que estão para aportar no Brasil.

O cartaz lançado pelo artista Cristiano Suarez causou e viralizou nas mídias sociais nos últimos dias.

Com uma óbvia referência a um certo presidente e sua maneira nada sutil de desgovernar o país, rapidamente o cartaz e a tour vindoura do grupo norte-americano ao Brasil (datas no final do texto) tomaram o facebook, twitter e demais redes sociais.

A arte faz menção não apenas à músicas do grupo, mas principalmente ao momento político que o país atravessa. E até aí, tudo ótimo! Somente em relação a arte primorosa do cartaz, que fique bem claro.

Mas após a enorme repercussão, vem um balde de água fria de onde menos se esperava.

O próprio grupo com uma conhecidíssima postura antifascista, e antiviolência (dependendo do ponto de vista…) se posicionou de maneira lacônica e totalmente política (na pior leitura) em relação ao cartaz, como se lê abaixo, conforme matéria do jornal O Globo.

Não precisa ser PHD em literatura ou em português para entender o cartaz e sua conexão com as letras do grupo norte-americano. O problema é ficar totalmente sem entender a bunda molice da banda.

Sempre politicamente ativa, mesmo sem a presença do ex-membro Jello Biafra há muitas décadas, o Dead Kenndys sempre foi uma banda combativa. Contra o estableshimet, contra a sociedade de consumo, contra os modismos, grandes gravadoras e principalmente contra governos de extrema e ultradireita.

Com uma rápida leitura em alguns veículos e com ajuda de qualquer tradutor na internet de maneira gratuita, os integrantes da banda não teriam muito trabalho para deduzir que o “dedo que dói lá”, “também dói aqui”.

Mas em vez de se informarem, vieram com uma declaração chapa branca e desautorizaram o cartaz!

E onde entra o Lê Almeida no meio de tudo isso?

Não entra.

Mas, a postura do artista brasileiro ao levar adiante o lema punk, “do it your self”, ao lançar inúmeros trabalhos, abrir com amigos um selo e gravadora e levar a sua política de transformação de pessoas comuns da Baixada Fluminense em artistas em saírem com sua arte percorrendo a Europa nos próximos meses ao lado da Oruã, é muito mais reveladora!

Pessoas que tendo enfrentado inúmeras dificuldades no seu país, e estarem com uma agenda lotada em diversos países, levando o noise cantado em português, é uma atitude mais punk do que um balde de água fria de um dos ícones do próprio punk.

Quando você vê e entende que o punk é mais punk dentro do seu berço natal, do que foram os ícones do movimento, é parar para pensar se os cinquentões ou sessentões de bandas ainda fazem algum sentido.

Existem exceções.

Mas não fazem parte dessas, outra decana banda que quase pôs terra abaixo, um trabalho de mais uma década em Florianópolis, há uns meses, quando um dos seus integrantes fumava um cigarro em local proibido (dentro da casa) e mesmo tendo sido alertado pela produção, infantilmente continuou na sua saga infantil de “ser punk” e não ter apagado o cigarro.

Pior talvez foi o vocalista, de extrema relevância política dentro do movimento, soltou inúmeras pérolas e foi conivente ao guitarrista de sua banda.

Já não se fazem mais punks como antigamente…

Talvez os punks, sejam outros, que são aqueles que desbravam com a cara, coragem e inteligência o mercado independente que existe lá fora e não tenham se tornado tiozões sem noção.

Os Dead Kennedys farão apresentações em quatro cidades, no Rio de Janeiro (23/5), em São Paulo (25/5), Brasília (26/5) e Belo Horizonte (28/5).

Luciano Vitor

Luciano Vitor

Formado em direito, frequentador de shows de bandas e artistas independentes, colaborou em diversos veículos: Dynamite, Laboratório Pop, Revista Decibélica, Jornal Notícias do Dia, entre outros. Botafoguense moderado, carioca radicado em Florianópolis há mais de 20 anos.

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