Crônicas

Currents, 10 anos depois: A metamorfose do Tame Impala (e de quem o ouviu)

Em 2015, decidi que era a hora de mudar. E Kevin Parker também.

Assim como eu, ele não sabia exatamente para onde está indo, mas acabamos nos encontrando em Currents.

Eu não o ouvi detalhadamente na época. Eram época de Stones, Cachorro Grande e Oasis. Baixei. Legal essa tal de psicodelia, mas foi embora.

Somente lá por 2018 é que entendi a mistura de psicodelia, fuzz, sintetizadores, batidas eletrônicas e, principalmente pop. Nostálgico, meio futurista.

Mudanças são sentimentos marcantes, inevitáveis e libertadores. Mas também são dolorosas.

E dez anos depois, talvez faça ainda mais sentido.

Músicas como Yes I’m Changing e Eventually parecem cartas abertas de alguém que entendeu que o passado não volta, mas que a vida só anda para frente. Já The Less I Know The Better transformou um desamor em hit de pista, porque às vezes a única coisa que nos resta é dançar.

No meio do caos.

Let It Happen talvez seja o manifesto definitivo sobre aceitar a incerteza, algo que aos 20 anos pode parecer um pesadelo, mas que aos 30 começa a fazer sentido.

Na vida, nadamos. Nadamos com amigos. Nadamos com amores. Nadamos com a família. Nadamos sozinhos. Nadamos. No fluxo ou contra a corrente.

Mas nadamos.

Hoje, ao revisitar o álbum, é impossível não pensar em como nossas próprias correntes nos arrastaram para lugares inesperados.

Talvez, dez anos atrás, você estivesse ouvindo Currents de um jeito.

Agora, ouve de outro.

Mas, o que fica depois da correnteza? No fim das contas, resistir é inútil. Let it happen.

Frederico Di Lullo

Frederico Di Lullo

Redator publicitário, letrólogo, jornalista & fotógrafo de shows, nasceu na Argentina, coleciona vinil, é fã incondicional de música e um exímio apreciador de artes degeneradas.

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