Resenha: Adrian Younge – Something About April III – (2025)
O que escrever a respeito de um compositor, músico, produtor, arranjador e uma das mentes criativas por trás do Selo Jazz Is Dead (é apenas uma ironia, o nome) e que você já conhece desde 2016, e acreditem, antes desse ano, o norte americano de Los Angeles, Califórnia, já era um prodígio tanto em quantidade quanto em qualidade!!!
No ano passado, antes mesmo de nosso site voltar das catacumbas cibernéticas, já tínhamos colocado entre os melhores álbuns de 2024, “Novela” da cantora Céu, produzido por Younge e “Adrian Younge presentes Linear Labs: São Paulo”.
Agora, imaginem quando esse homem, chegar na música do Rio de Janeiro?
Imagino num longo exercício de devaneios o encontro entre Younge, Marcelo D2, a galera do Escritório e o samba carioca…
Mas voltando ao que nos pauta. O norte americano mais brazuca que consigo lembrar dos últimos tempos, não para, e isso não é frase de efeito.
Com o mais recente álbum, lançado esse mês, “Something About April III” (porque sim, existem outros 2 anteriores) o jovem do alto dos seus 40 e poucos anos, alcança a participação em nada mais, nada menos que, 63 trabalhos, mas acreditem, eu devo estar muito errado.
Seja, produzindo, remixando, regendo, é um verdadeiro workaholic man!
Não colocamos as produções por fora, como por exemplo o belíssimo “Novela”, da já citada Céu.
Aí vem o mês de abril, vem essa ode ao amor. Com faixas com diversos vocais mistos.
Eu consigo enxergar o álbum como um todo, que faz parte de um universo gigantesco de referências, sejam brasileiras ou o próprio universo que Younge construiu ao longo dos anos.
A faixa de abertura é interessantíssima. “A Música da Minha Fantasia”. Com vocais cantando sobre as rotações de discos de vinis, a metáfora com amor é de uma inteligência visceral.
33 rotações, 45 rotações e as pequenas variações do amor.
O disco vai nessa pegada. Clima setentista, brega ao extremo (e isso é legal, sem soar piegas) e a ode suprema ao amor. Mas aquele amor de motel, de carros com capota rebaixada, vento no rosto, martinis, e porque não? Uma tentativa de emular ao extremo o mestre Serge Gainsbourg, na faixa “Poxa Meu Amor”.
Essa faixa, na minha opinião (sim, porque sou eu que está escrevendo), é meio destoante do álbum como um todo.
É uma troca de amabilidades entre o “homem” (voz de Younge) e sua “mulher” (voz de Céu).
São frases amorosas, com direito a coro nos intervalos entre o diálogo entre os dois, mas que soa forçado. Não é nada natural. Como o álbum é cantado em português, o sotaque de Younge destoa.
Mas seguindo a construção da obra, as nove faixas são praticamente todas, com aquela pitada brega, piegas e com pegadas setentistas. Como uma reconstrução de uma época perdida. Ou entre a LA que não existe mais e um Brasil onírico, noturno e sáfico.
A reedição de “Esperando por Você” que já tinha saído em “…São Paulo” faz mais sentido dentro dessa pequena opera urbana sobre o amor, sentimentos e sentidos.
“Ainda Preciso do Sol”, a quinta faixa é absurdamente o clima de Luke Cage em português, fez tanto sentido que, se um dia a Marvel, resolver colocar Luke Cage novamente em seu universo, essa faixa tem que estar na trilha sonora.
O disco é uma colcha belissimamente bem tramada. Com instrumentos casando dentro de cada faixa. Até mesmo o complicado theremin está ali, em “Nossas Sombras” criando aquele clima estranho e tenso.
É um disco para ouvir com fone de ouvido, ou com a amada ao lado, uma garrafa de um bom vinho e entender, que até mesmo o estilo brega, dentro do universo musical desse maravilhoso produtor, merece o status de cult, e quase atinge a nota máxima.
“Something About April III”, é delírio, é sacanagem gostosa, é música para escutar junto de alguém, mas acima de tudo, é um álbum de alguém que respeita e resgata a música brasileira em todos os seus níveis.
Ps. A propósito, a citação de Luke Cage, anteriormente não foi à toa. Younge e seu parceiro Ali Shaheed Muhammad foram os responsáveis pela excelente trilha sonora do seriado em 2016, ainda na Netflix.
https://www.instagram.com/adrianyounge
Musicalidade, Brasil com EUA, anos 70 e 20. Dinamite Pura!
Missing album name.
Something in April III – Adrian Younge
Gravadora: Linear Labs
O verdadeiro e certeiro encontro, Brasil e EUA. Ano 70, Anos 20 e sacanagem gostosa!