Resenhas

Resenha: Arnaldo Antunes – Novo Mundo (2025)

Depois de mais de quatro décadas de carreira entre poesia concreta, os Titãs, os Tribalistas e uma vasta produção solo, Arnaldo Antunes retorna com Novo Mundo. Este disco que soa ao atual e coerente a trajetória do poeta. Lançado em 2024, o álbum reflete um artista que continua inquieto, atento às transformações culturais e disposto a experimentar novas linguagens sem abandonar suas marcas registradas: a palavra afiada, o jogo sonoro e o espírito colaborativo.

De cara em “Novo Mundo”, faixa-título que abre o disco, dita o tom do álbum e põe na cara do ouvinte as características que esperamos de um álbum do Arnaldo: Colaborações com outros artistas, palavras afiadas e uma paleta sonora extremamente colorida. Aqui ele divide os vocais com o rapper baiano Vandal, num encontro que mistura poesia falada, um beat incrível e uma atmosfera atual e ao mesmo tempo futurista.

Antigas parcerias também ganham nova vida, como em “Sou Só”, onde ele se reencontra com Marisa Monte numa balada melancólica e precisa. Uma canção que remete os melhores momentos dos dois juntos com os Tribalistas e a famosa participação da cantora no Acústico dos Titãs Em “Para não falar mal”, ao lado de Ana Frango Elétrico, a doçura da voz da cantora contrasta com a voz quase falada de Arnaldo. E há ainda duas colaborações com o ex-Talking Heads David Byrne — resquícios de uma admiração mútua e antiga — que dialogam com os momentos mais percussivos da carreira de ambos e voltados ao que era chamado de “World Music” antigamente. “Body Corpo” é uma faixa extremamente byrniana, dançante e com um crescimento claro na melodia, enquanto “Não dá para ficar parado aí na porta” é um clássico da poesia do músico paulistano. A alternância entre versos em inglês e português, traduzidos por cada um dos cantores, é rítmica e prova a universalidade da linguagem, não importando qual o idioma falado.

Mas não é só de parcerias que este álbum é feito. A belíssima “O amor é a droga mais forte” é talvez uma das canções mais poderosas e pungentes dele e com a sua batida marcada caberia facilmente em qualquer disco dos Titãs, na voz dele ou do Branco Mello. “Tire seu passado da frente” tem uma atmosfera oitentista e começa bem, mas da metade pra frente se perde em gritos e urros. “Viu, Mãe” é fofinha, uma homenagem à mãe do artista, ou às mães no geral, mas parece um tanto perdida no meio do álbum.

Não há nada de muito novo em Novo Mundo. Não é uma ruptura, nem um disco de transição. É um álbum de trânsito. Arnaldo Antunes percorre os caminhos conhecidos e não parece muito interessado em chegar em qualquer destino definitivo. Ao reunir vozes díspares, brincar com estilos e insistir na força das palavras e da linguagem, o artista cria um trabalho que dialoga com o presente sem abrir mão da sua identidade. É como se, ao invés de propor um futuro utópico, ele estivesse mapeando as possibilidades do agora — com o ouvido aberto e a poesia em punho.

7.2

Novo Mundo – Arnaldo Antunes

Gravadora: Rosa Celeste

Alexandre Aimbiré

Alexandre Aimbiré

Estudante de Letras, guitarrista de fim de semana, DJ ocasional, leitor ávido de Wikipédia e escritor de romances de gaveta. Manézinho de nascimento, criado em Porto Alegre e atualmente mora em São Paulo. Como todo bom crítico, já tocou em várias bandas que não deram em nada.

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