Resenhas

Resenha: BaianaSystem – O Mundo Dá Voltas (2025)

Desde o seu surgimento em 2007, o combo baiano vem em uma constante evolutiva. Não é lá muito fácil manter uma identidade musical, visual e principalmente manter a honestidade e integridade poética.

Com o quinto trabalho lançado em janeiro, o grupo mantém a contundência de letras com críticas sociais, sem abandonar seu caldeirão de sons.

Eu vejo um paralelo muito forte entre os baianos que transitam entre o rock, rap, soul, ritmos caribenhos, mpb, ou como a imprensa vem classificando, afro rock com outra banda, essa de Pernambuco, a Nação Zumbi.

Ambas com integridade e uma longeva carreira dentro da história musical brasileira.

Com 13 faixas, a banda encontra o ápice musical em praticamente todo o álbum. Vai da crítica mordaz ao lado de Emicida em “ A Laje”, com 05:42 que o ouvinte nem sente que a faixa é necessária em tempos de ainda divisão política tupiniquim, passa por uma linda e surpreendente “Praia do Futuro” com Antonio Carlos e Jocafi, que antes da própria faixa, ganha uma introdução narrada por Antonio Carlos da dupla Antonio Carlos e Jocafi.

Quando a música de fato, começa é um deleite sonoro!

Os refrãos cantados por Russo Passapusso, Seu Jorge, Antonio Carlos e Jocafi é uma canção de amor com metalinguagem, sacadas geniais em poucas frases, uma letra digna de uma banda que busca referencias no passado para prosseguir com o seu libelo musical.

Daí em diante, é jogo ganho: “Porta-Retrato da Família Brasileira” é outra balada no estilo de “Maria da Penha” do álbum Batuqueiro (Martinho de Vila) lançado em 1986, a diferença é a junção de palavras e que fazem de si um espelho inverso e novamente a crítica social e a chama Afro com corais irrepreensíveis, mas que procura conduzir uma pequena narrativa em sua primeira parte.

“Magnata” é herdeira direta de outras faixas e traz uma lembrança muito boa de Skank na sincopada das frases, mas com ritmo poderoso e até brincando com o vai e vem das notas, soa como um ritmo caribenho com música eletrônica.

Aí vem “Palheiro” com simplesmente Manoel Cordeiro (quando escrevi que a banda buscava o passado para construir a sua comunicação com o futuro, não foi à toa). Uma faixa instrumental de outro mundo!

“Pote D’Água é Baiana com Gilberto Gil, precisa explicar mais alguma coisa? Como além de conterrâneos são também parceiros em outro trabalho lançado anteriormente, é aquela pegada muito pra cima e com levadas de violão, percussão e sopro.

A casa está aberta para quem é do jogo, Pitty, VANDAL e Baianasystem se encontram em “Cobra Criada/Bicho Solto”.Outra faixa com a assinatura do som característico da banda, Se fosse mais rápida, sério; seria uma música de Carnaval com pegada rocker, milhões de vezes melhor que outras poluições sonoras da época de Momo.

“Balacobaco” é a surpresa não pela boa música, mas pela participação de Anitta e o direcionamento do baixo estilizado na faixa. Outra candidata a hit no Carnaval, quem sabe em 2026, porque merece! E o rap de Alice Carvalho dentro da faixa?

O álbum fecha com “ O Mundo da Voltas” (frase pinçada da faixa anterior) e por último “ Ogun Nilê” um chamamento a Africa Mãe, com as batidas percussivas características não apenas da Bahia, mas do Brasil e suas vozes negras.

“Toda Fé em Salvador”! Toda fé e Axé no Baianasystem!

10

O Mundo Dá Voltas – BaianaSystem

Gravadora: Máquina de Louco

Mais um petardo dos baianos que não tem medo de misturar tudo que é possivel, e o que não é!

Luciano Vitor

Luciano Vitor

Formado em direito, frequentador de shows de bandas e artistas independentes, colaborou em diversos veículos: Dynamite, Laboratório Pop, Revista Decibélica, Jornal Notícias do Dia, entre outros. Botafoguense moderado, carioca radicado em Florianópolis há mais de 20 anos.

Outras matérias deste autor