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Resenha: Djonga – Quanto Mais Eu Como, Mais Fome Eu Sinto! (2025)

Esse disco martela há quase 3 meses minhas playlists. Eu tenho ouvido quase todas as semanas, do rapper mais assíduo em lançamentos nos últimos10 anos. Sendo single, ep, ou álbuns cheios, são inúmeros lançamentos. Djonga deve levar a máxima: “Quem não lança, não é ouvido” ou “quem não é visto, não é lembrado”.

São 8 álbuns. Todos, sem exceção, contundentes, sem amarras, sem fazer concessões. A temática da figura mítica de Exu, um orixá primordial, conhecido como mediador entre o mundo dos homens e dos orixás está ali, no título, na primeira faixa, “Fome”, onde a ostentação, antagonismo e a história de Exu, está ali, junto com o sincretismo religioso, e a sagacidade das letras ácidas do rapper mineiro.

Djonga, além da assuidade de lançamentos, é um poeta das ruas, da comunidade e do mundo. Rap pode parecer igual para aqueles que não acompanham a cena. Mas é diferente, cada rapper, tem uma dinâmica diferente, e Djonga é um dos maiores e mais emblemáticos dentro da cena nacional.

Preocupado não apenas com o casamento das letras e um “flow” de quem transita entre canções com a pegada mais pop e ácida como em “PPRT”, ou aquele beat diferente, que gruda nos ouvidos e desfia a história de cada jovem morador da quebrada, “ Real Demais”, o rapper é um cronista do cotidiano bukowskiano das comunidades.

“Melhor Que Ontem” é surpresa das grandes ao samplear Los Hermanos. Uma música rápida, uma quase história de amor sombria. Porque os rappers amam, de cara fechada, mas sabem escrever e cantar sobre o amor, mas talvez de uma maneira menos óbvia”.

“Demoro a Dormir” une Milton Nascimento e Djonga. Sim, você leu certo. Com uma voz um pouco mais trêmula, um dos maiores cantores do mundo, empresta a fragilidade do alto dos seus oitenta e poucos anos, e ternura ao rapper com idade de neto, mas firme e lutador do cotidiano onírico dos morros.

É uma contraposição interessante. A firmeza e virulência de um lado, com a fragilidade veterana de um ícone, em outra letra de alto nível.

Outra figura de destaque do cancioneiro mineiro, Samuel Rosa, também bate ponto em “Te Espero Lá”. Pegada pop, synth presente, uma levada mais tropical, mas com a acidez das letras djonganianas.

“Ainda” que fecha o disco com Dora Morelenbaum tem uma pegada mais leve, fala novamente da fome, e um que de Motown Records.

Ao lado de vários, Djonga foi de novo, único, mordaz e contundente. Um disco para fazer parte da história do rap nacional.

Escute no volume máximo!!!

9.4

Quanto Mais Eu Como, Mais Fome Eu Sinto! – Djonga

Gravadora: A Quadrilha

"Quem não lança, não é ouvido” ou “quem não é visto, não é lembrado, e Djonga certamente quer ser visto e lembrado.

Luciano Vitor

Luciano Vitor

Formado em direito, frequentador de shows de bandas e artistas independentes, colaborou em diversos veículos: Dynamite, Laboratório Pop, Revista Decibélica, Jornal Notícias do Dia, entre outros. Botafoguense moderado, carioca radicado em Florianópolis há mais de 20 anos.

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