Resenha: Joe Bonamassa – Blues of Desperation (2016)
Este é o décimo segundo álbum da longa carreira do guitarrista americano Joe Bonamassa. E que álbum! Blues of Desperation é um esforço sólido de um homem que não tem nada mais a provar a ninguém, mas que insiste em continuar inquieto e expandindo seu som. Gravado em Nashville e lançado em 2016, o disco é essencialmente um álbum de blues elétrico, mas com elementos de soul, country e até pitadas de hard rock. Bonamassa, como de costume, está cercado de músicos impecáveis e antigos colaboradores, como Anton Fig na bateria e Michael Rhodes no baixo.
“This Train” abre o álbum com uma pancada soul, backing vocals femininas e tanta energia sulista que poderia ser uma faixa dos Black Crowes. Mas não se engane: isto ainda é blues, e a imagem clássica do trem nos trilhos, indo a lugar nenhum e sem intenção de voltar, deixa isso bem claro. “No Good Place for the Lonely” é a faixa mais longa do álbum — um blues clássico com mais de oito minutos e meio de duração, mas ao ouvi-la, o tempo simplesmente voa. Já a faixa-título, “Blues of Desperation”, é absolutamente incrível, com riffs claramente inspirados pelo Led Zeppelin e um clima que mistura a pegada épica e exótica de “Kashmir” com o peso e a urgência catártica na voz de Bonamassa. É uma faixa que dá vontade de voltar a ouvir logo depois de terminar.
O violão aparece em “The Valley Runs Low”, e com ele a influência do country se faz mais explícita. É uma faixa de tom mais introspectivo, que traz uma pausa bem-vinda no meio do álbum. Em seguida, a bem-humorada “You Left Me Nothin’ But the Bill and the Blues” nos leva de volta ao blues com licks estalados e uma letra irônica, classicamente blueseira. Mas logo somos puxados de volta ao rock com “Distant Lonesome Train”. A guitarra retorna carregada de peso, e acompanhada do piano, dá o tom para os temas recorrentes do trem e da solidão. O álbum se despede com “What I’ve Known for a Very Long Time”, um blues à la Chicago — elegante, com uma performance vocal contida, mas carregada de sentimento. Um encerramento digno para um disco que percorre diferentes paisagens musicais, sem jamais deixar de ser um álbum de blues americano.
Blues of Desperation é o trabalho de um artista maduro, que domina com segurança a linguagem do blues. Ao longo das onze faixas, Joe Bonamassa mostra que ainda tem muito a dizer dentro do gênero que caminha com ele desde a infância. É um álbum denso, variado, emocionalmente carregado e tecnicamente impecável. Mais do que uma exibição de virtuosismo, é uma expressão de sensibilidade e um profundo respeito pelas raízes do blues, sem perder sua identidade única e contemporânea. Um disco que merece ser ouvido com atenção e ser revisitado.
Blues of Desperation – Joe Bonamassa
Gravadora: J&R Records