Resenha: Jorge Cabeleira – Trazendo Luzes Eternas (2014)
Escrever sobre um dos mais importantes movimentos musicais ocorridos nos últimos 20 anos é redundância, o mangue beat. Assim como, nominar cada uma das bandas que fizeram parte daquela historia.
Jorge Cabeleira ontem e hoje, uma banda que traz uma das vertentes mais roqueiras de Pernambuco. Se por um lado tínhamos: Chico Science e Nação Zumbi, mundo livre s a, Cascabulho, Mestre Ambrósio, Dona Margarida Pereira e os Fulanos, do outro lado tinham as bandas com mais pegada e mais punch que bebiam não só de ritmos regionais, mais também do bom e velho rock n roll: Querosene Jacaré, Eddie, Matalanamão, Sheik Tosado (surgido dois anos depois da explosão do mangue beat), o punk nervoso do Devotos do ódio (hoje só Devotos), Faces do Subúrbio e seu rap envenenado e claro Jorge Cabeleira e o Dia em que seremos todos inúteis.
Importante mesmo é poder comemorar o retorno de uma das bandas mais importantes daquela safra (embora tenha sido bastante subestimada na época) e que desde 2013 voltou com sua formação quase original (a exceção do excelente baterista Davi Santiago falecido no ano passado). A banda vem fazendo shows, produzindo novas faixas e que hoje conta com Joaquim de Souza Leão na bateria. Um músico que consegue fazer do seu instrumento uma arma sonora e que se encaixou com muita competência na atual formação.
A coletânea, que tem 18 faixas dos dois trabalhos do grupo, contém ainda 2 faixas inéditas que foram gravadas recentemente com uma qualidade que impressiona.
“Apreciação” a primeira faixa da cd é uma daquelas canções que enchem o espaço, com um poder de fogo arrebatador. A voz de Dirceu Melo soa madura e ao mesmo tempo vigorosa com os riffs de Beto Legião e o compasso de um dos melhores baixistas de Recife, Rodrigo Coelho.
A música está para ganhar um clip que em breve será lançado junto com a tour que a banda irá fazer no final de maio: Belo Horizonte, Curitiba e São Paulo.
A percussão de Pedro Mesel é pontual, econômica e casando perfeitamente com a bateria de Davi Santiago. O final da faixa é uma apoteose sem igual.
A segunda canção inédita “Abôio Pra Vida” tem um clima mais rural, quase um encontro de Alman Brothers com Alceu Valença, mas com uma pegada de cantoria de Geraldo Azevedo. Simples e de uma singeleza comovente!
A letra é uma “imagem” da vida que vivemos, presos a um sistema cheio de regras, mas que podemos mudar, e que isso só depende de cada um de nós.
Nota-se a simplicidade da letra, mas a genialidade de Dirceu como letrista, consegue passar mensagens em poucas linhas, consegue soar simples, mas certeiro em suas letras dentro da banda.
Lançar um álbum com um apanhado dos 2 únicos álbuns lançados pela banda, não é em nenhum momento uma tentativa de remissão com o passado, mas um acerto de contas com uma estrada interrompida precocemente em 2001 e mirando um futuro de luz, e que essa luz, seja eterna.
Trazendo Luzes Eternas – Jorge Cabeleira
Gravadora: Cósmica