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Resenha: Kadavar – I Just Want to Be a Sound (2025)

Confesso que a última vez que ouvi Kadavar foi em 2018, quando eles se apresentaram em Florianópolis na Célula Showcase. O som do seu álbum de estreia, Abra Kadavar, ainda estava muito claro na minha mente. Aquele stoner gostoso, cheio de graves pré-históricos e riffs grosseiros que você fecha a cara pra ouvir. Anos se passaram e me distraí com outras coisas, outras bandas e outros sons. Coisas normais da vida, não é que você deixa de gostar de algo, só deixa na estante e acaba esquecendo, como um livro que ficou pela metade e você prometeu a si mesmo que um dia vai terminar. Os anos se passaram e o trio alemão virou um quarteto, e eu nem percebi. Abri o Spotify e fui buscar algo pra me manter acordado num dia particularmente cansativo em que o café não estava dando conta. Abri uma playlist de stoner que eu não ouvia quase há tanto tempo quanto eu fiquei sem ouvir a Kadavar. No canto havia uma recomendação para o álbum novo dos alemães: I Just Want to Be a Sound. O estranhamento foi imediato.

Eu estou ouvindo a mesma banda? De onde veio esse sintetizador? Tem certeza que o Kevin Parker não tá envolvido nisso? Essa música tá em tom maior?!

Uma guitarra cheia de delay e um riff cheio de camadas abrem a faixa-título e o álbum. Meu estranhamento intensifica. Decidi ouvir o álbum anterior, Kadavar, do ano passado, que eu também não ouvi. Era exatamente o que eu estava esperando desde último lançamento. Os vocais estão mais limpos, a bateria mais cristalina, mas ainda é aquela banda stoner que eu conhecia de anos atrás. Volto ao lançamento deste ano. Ainda não me conformo. Mas minha maior indignação é comigo mesmo.

Eu gostei disso. E muito.

A introdução de “I Just Want to Be a Sound” é apenas uma amostra do que está por vir. A faixa tem uma aura pop oitentista, ganchos incríveis e um refrão absolutamente maravilhoso. Ainda há lampejos da Kadavar que eu conhecia espalhados pelo álbum. O baixo continua cheio de distorção e a bateria é pesada demais para algo considerado “pop”. Há notas de psicodelia e até de britpop em canções como “Let Me Be a Shadow” e “Strange Thoughts”. No meio dos refrões açucarados, ainda dá pra sentir o peso de uma banda de rock nas entrelinhas — como em “Regeneration” e “Scar on My Guitar”. São faixas que lembram que a Kadavar — assim como qualquer banda de rock — não pode ser definida apenas pelo uso de pedais de distorção.

O problema — e sempre tem um problema — é que pessoas que ouvem rock não gostam de mudança. Para tantos Beatles e Kinks, há o dobro de AC/DCs e Motörheads. Os roqueiros, infelizmente, privilegiam demais o conforto auditivo de ouvir a mesma coisa sempre. O reflexo disso é a quantidade de plays de I Just Want to Be a Sound comparada com qualquer outro lançamento da banda. A Kadavar de 2025 não é a mesma banda de 2013 — nem a que eu vi em 2018. E, sinceramente? Não há motivo para ela ser a mesma banda. I Just Want to Be a Sound é uma guinada inesperada e corajosa de uma banda madura, que se recusa a ser definida por rótulos ou pelo próprio passado.

8.2

I Just Want to Be a Sound – Kadavar

Gravadora: Clouds Hill

É arriscado? Sim. Mas ficou bom? Nossa Senhora, sim!

Alexandre Aimbiré

Alexandre Aimbiré

Estudante de Letras, guitarrista de fim de semana, DJ ocasional, leitor ávido de Wikipédia e escritor de romances de gaveta. Manézinho de nascimento, criado em Porto Alegre e atualmente mora em São Paulo. Como todo bom crítico, já tocou em várias bandas que não deram em nada.

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