Resenha: Kendrick Lamar – To Pimp a Butterfly (2015)
Se existissem limites ou coerência no mercado musical, praticamente todos chegariam ao estrelato. Bastaria utilizar a fórmula mágica e pronto, lá estaria o próximo sucesso! Não é assim e nunca será. Enquanto centenas de álbuns vazam pelo globo terrestre, outros são vazados propositadamente pelos próprios artistas. Kendrick Lamar conseguiu causar surpresa ao liberar o seu quarto trabalho que seria lançado oficialmente no dia 23 de março de 2015, e uma semana antes, no dia 16 do mesmo mês lá estava o CD virtual completo no site Spotfy. Das 23:59 até o fim daquele dia, o álbum do rapper norte americano tocou nove milhões e seiscentos mil vezes na íntegra! Um novo recorde entre sites do gênero!
E chegamos a 2016, com o CD sendo lançado fisicamente no Brasil, o que esperar de uma obra que nasceu polêmica e altamente política e atual? Explicaremos mais a frente…
O álbum ou o conceito de CD ou LP teria mesmo morrido? Talvez não. Mas o recorde recém cravado talvez advenha de inúmeros fatores: provocações espontâneas à rappers nova-iorquinos (sendo Lamar de Los Angeles) quando o mesmo se autoproclamou o “Rei de Nova York”, recordes sendo batidos um após o outro na esfera musical, elogios de artistas de diferentes ritmos (Taylor Swift e Miley Cirus), prêmios e um fator que pode ou não passar batido por críticos e fãs: Lamar não se prende ao cenário rapper atual.
Ele mira o futuro, mas com um viés totalmente voltado ao passado, algo nada novo, mas com uma classe quase inovadora. Com referências das mais diversas, o novo furacão do rap e hip hop dos EUA, chamou a atenção e dizimou qualquer próximo lançamento de álbuns que já foram lançados e ainda que estão por vir.
O mais importante de toda a falácia ou elogios que se faça ao artista de 27 anos, é o discurso contra o racismo na América de Obama. Com inúmeras passagens declamadas ao invés do acelerado jeito de cantar de inúmeros rappers contemporâneos, o artista resgata um outro estilo perdido lá atrás. Traz ao presente as suas influências como: Fugees, Notorious Big, NWA, Tupac Shakur, a poesia de George Clinton e principalmente o falecido Gil Scott Heron.
Em sua colcha de retalhos apontando todos os dedos das mãos e com convidados de peso como: o já citado George Clinton e Snoop Dogg, Kendrick Lamar ofuscou os CDS do ritmo dominante nos EUA e praticamente em boa parte do mundo com um discurso positivo e incisivo contra o racismo e os dois lados da moeda de ser negro na “terra das oportunidades”. Não a toa, a capa do CD de Lamar tem um quê de provocação ao poder de quem ocupa a Casa Branca, residência oficial dos presidentes norte americanos.
Não muito diferente de um certo país subtropical no hemisfério sul, quanto quem mais tem, menos sofre. São poucos que levantam a voz contra a desigualdade racial, mesmo sendo inúmeras vezes mais famoso que o músico norte americano. Nesse caso, quem mais tem poder de mídia (Lamar), consegue levantar a sua voz para ser ouvido, e nesse caso bater alguns recordes e fazer o público pensar.
Talvez, daqui há muitos anos, o álbum continuará polêmico e atual, pois é um daqueles casos que nasceu como uma obra prima.
To Pimp a Butterfly – Kendrick Lamar
Gravadora: Interscope