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Resenha: Pulp – More (2025)

O retorno do Pulp, depois de mais de duas décadas sem lançar um álbum novo, chega com um nome ao mesmo tempo simples e provocador: More. E o que exatamente estamos recebendo mais? A resposta, ao longo de nove faixas bem produzidas e sexualmente carregadas, parece ser: mais Jarvis Cocker sendo Jarvis Cocker — só que agora num registro mais grave, mais maduro e, sim, mais sensual.

O disco abre com um acerto em cheio: “Spike Island”, primeiro single e talvez o único momento em que o Pulp soa realmente como o Pulp que muitos fãs tinham guardado na cabeça desde os tempos de Different Class e His ’n’ Hers. É uma faixa enérgica, com bateria marcada, groove pulsante e aquele lirismo autoirônico típico de Jarvis. Um retorno à altura, que funciona tanto como celebração quanto como armadilha: ela sugere um disco mais direto, mais pop, do que More realmente é.

Passado esse primeiro momento, o álbum mergulha numa atmosfera densa e grave, muito mais próxima do Serge Gainsbourg fase Histoire de Melody Nelson do que do britpop noventista. De certa forma, parece que a banda ignorou completamente We Love Life e resgatou a ambientação e os temas de This Is Hardcore. O resultado é um álbum extremamente classudo, com linhas de baixo que preenchem cada espacinho e uma bateria redondinha. A produção é um espetáculo à parte — tudo soa caro, elegante e meticulosamente pensado.

O elemento que mais chama atenção, para o bem ou para a vergonha alheia, é o próprio Jarvis. Seu barítono está profundo e envolvente, e ele usa a voz para narrar momentos, er, íntimos — sem nos poupar de nenhum detalhe sórdido. Há um erotismo mais sugerido do que ilustrado, ainda que em certos momentos a sugestão voe pela janela e ele seja tão direto que parece estar lendo sua própria fanfic erótica, com trilha sonora incluída. Dependendo da sua tolerância a esse tipo de coisa, More pode soar sexy ou simplesmente esquisito.

Ou você simplesmente não liga pras letras — e isso não vai fazer diferença nenhuma na sua audição. E eu, pra variar, estou sendo chato.

More é um estudo sobre envelhecer com estilo — ou pelo menos tentar. Não é um álbum que se rende à nostalgia (e talvez frustre quem, como eu, esperava isso), mas também não é um rompimento total com o passado. Há ecos do Pulp clássico aqui e ali, sobretudo no cinismo e nas observações cotidianas que ainda surgem entre gemidos e metáforas corporais. À frente do Pulp, Jarvis Cocker sempre foi o maior storyteller do britpop — e aqui ele prova, mais uma vez, por que merece essa alcunha. Para os fãs de longa data, pode soar como um reencontro com um velho amigo que agora usa terno de linho e fala mais baixo. Para quem está chegando agora, talvez pareça uma coletânea de baladas obscuras feitas por um crooner britânico obcecado por tensão sexual. Em ambos os casos, vale a pena ouvir — nem que seja só pra ver o que acontece quando o Pulp decide voltar sendo menos Common People e mais Seductive Barry.

6.9

More – Pulp

Gravadora: Rough Trade Records

Menos "Common People", mais "This Is Hardcore".

Alexandre Aimbiré

Alexandre Aimbiré

Estudante de Letras, guitarrista de fim de semana, DJ ocasional, leitor ávido de Wikipédia e escritor de romances de gaveta. Manézinho de nascimento, criado em Porto Alegre e atualmente mora em São Paulo. Como todo bom crítico, já tocou em várias bandas que não deram em nada.

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