Resenha: Sogro Inglês – Se for pra ser (2018)
“Ah, que ótimo! Outra banda fazendo músicas com progressão de acordes 1-3-4-5 (Beato!) achando que é o Raul Seixas. Pior, outra banda gaúcha achando que é a Tequila Baby.”
Foi essa a minha primeira impressão ao ouvir os primeiros segundos de Se for pra ser, o único álbum da banda Sogro Inglês. Fiquei me indagando o que leva uma banda a dar esse nome a si mesma? É um trocadilho? Alguma piada interna mal explicada? Não cheguei a nenhuma conclusão sobre o nome, mas as letras são, de fato, uma piada de extremo mau gosto. As cinco primeiras músicas são um pastiche de Raul Seixas na fase “Cowboy Fora da Lei”, com levadas de blues, trechos narrados e letras tão ruins que parecem saídas de um disco dos Miquinhos Amestrados — aquela encarnação cômico-brega do esquecido (graças a Deus!) João Penca. Trocadilhos, silicone, duplo sentido… Só não fica pior que “olhar um pornôzão”, que eu cito diretamente da faixa “Cerveja (Gelada)”.
Aparentemente o guitarrista Tiago Gadeia é mestre cervejeiro e proprietário de um bar em Canela, na Serra Gaúcha, cidade natal da banda. Até aí tudo bem — como é sempre dito em mesas de bar — mas precisava fazer uma música literalmente sobre cerveja? Não bastavam todos os chavões colecionados até aqui, precisava mesmo de mais esse clichê? Como canta o vocalista Beto Lisboa, “é só desgraça”.
Mas é nas últimas faixas que o disco realmente desanda. A faixa-título “Se for pra ser” começa com um arranjo de cordas sobre uma Telecaster limpa e estaladíssima, uma letra emotiva e romântica cheia de dor de cotovelo — um mergulho sem aviso no melodrama, que destoa completamente da primeira metade do álbum. Aí, logo depois, vem “Cansei” e “Presídio ou Febem”, onde as letras me fazem querer me atirar pela janela do meu apartamento no sétimo andar. Eu “demorei mas cansei” (argh!).
Não, ela não é uma música boa. E, neste contexto, consegue ser ainda pior: ela quebra completamente o clima do disco. Sem ela, seria um álbum bobinho, feito pra divertir gente com humor de tiozão de churrasco. Com ela, é um coito interrompido — uma brochada monumental que estraga a noite de todo mundo.
Provavelmente é chatice minha, mas o som da bateria é mais achatado que uma chapa de MDF. Pegaram pesadíssimo na compressão, e é difícil ouvir qualquer coisa por debaixo do som opaco da caixa e o chimbal chiando em todas as músicas. A bateria, literalmente, encobre todos os outros instrumentos, e o baixo é engolido pelo bumbo. Tem mesmo duas guitarras aqui? O vocalista precisa mesmo cantar como se estivesse tentando arrastar uma geladeira de bar cheia de cerveja? Perguntas que eu prefiro que fiquem sem resposta, porque não dei conta de ouvir as duas últimas faixas.
Tenho certeza de que os rapazes da Sogro Inglês se divertem bastante tocando suas músicas em bares pelo interior do Rio Grande do Sul. Também sei que suas performances — incluindo os covers — conquistam o público que acompanha a banda há dez anos. Mas, por questões legais (e por recomendação da minha advogada), estou proibido de dizer o que realmente penso sobre “Presídio ou Febem”.
Se for pra ser – Sogro Inglês
Gravadora: 180 Selo Fonográfico
Sim, mais uma banda de roquenrou tocando em escala pentatônica de blues fazendo letras engraçadinhas.