Resenha: Somaa & Sylverdale – Clube da Distorção e Quebradeira, Vol.2 (2014)
Desde que ressuscitamos este glorioso site, eu me vejo dividido em algumas tarefas diferentes. A primeira é o trabalho de manter este site em pé. A segunda é escrever resenhas e matérias. E a terceira, e talvez mais inglória, é recuperar literais anos de material que se perdeu durante migrações e outros problemas técnicos aos quais eu não vou preocupar vocês. Esta terceira vem combinada com uma quarta tarefa, a de resenhar todo o material que ficou parada num literal baú durante a pandemia e esses anos que o site ficou fora do ar. Um deles sempre atraiu minha curiosidade, mas nunca parei pra ouví-lo. Sempre achei sua capa interessantíssima e divertidíssima: Clube da Distorção e Quebradeira, Vol.2.
Um álbum, uma cidade, duas bandas. A primeira metade do disco é da Somaa enquanto a segunda fica a cargo da Sylverdale, ambas bandas de Joinville, SC. Na capa do álbum, todos alinhados conta uma parede enxaimel com seus instrumentos em punho — guitarras, violões, baixos e tambores — e uma quantidade absurda de pedais de guitarra dispostos em frente a eles. Fiquei algum tempo olhando pra capa tentando identificar modelos diferentes e possivelmente exóticos entre o arsenal dos rapazes. A capa segue a longa tradição à Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band de expor todos os integrantes enfileirados, mas ao mesmo tempo a parede enxaimel atrás deles deixa claro a origem deles. São duas bandas do interior de Santa Catarina e eles escolheram mostrar isso ao mundo.
Cada “lado” do álbum fica a cargo de uma das bandas, com exatamente seis faixas de duração para cada grupo. Primeiro, o power trio Somaa abre com a prometida distorção e uma boa dose de quebradeira com “Cova Rasa”. Riffs rápidos, uma cozinha extremamente competente e vocais que sabem dosar a quantidade certa de emoção com uma boa técnica. A segunda faixa, “Marionetes”, já tem uma pegada mais stoner rock, um riff bem gosmento (por favor, perdoem minha tradução parca para “sludgy) e harmonias à Queens of the Stone Age. Destaque também para o baixista Ned Xavuer em “O Lendário Equilibrista das Bananas”. As faixas são bem distribuídas entre o cardápio do que havia de melhor no rock dito “alternativo” nos anos 2010 e a banda fecha muito bem sua metade com “Vá”, uma faixa empolgante que me fez bater a cabeça durante toda sua duração.
O Lado B, com a Sylverdale, não deixa a desejar. “Só eu sei o que eu sonhei” começa devagar com guitarras limpas, mas logo embala. Conduzida pela bateria precisa de Helder Cognaco, a faixa logo apresenta o duo de guitarras de Héssex Cognaco e Paulo César e licks bem colocados que combinam por demais com as harmonias vocais. Logo se percebe que as bandas são completamente diferentes, mas bebem das mesmas fontes. Aqui também há uma influência inegável dos Queens of the Stone Age, do grunge e de outros membros do cânone musical da primeira década deste milênio. A maior diferença entre as bandas é a alternância entre faixas cantadas em português em inglês. “No Going Home” entrega distorção até nos vocais e continua a quebradeira que termina apenas em “Before It Was Dark”, a única faixa acústica do álbum que remete muito aos Foo Fighters, especialmente entre os discos “The Color and the Shape” e “There Is Nothing Left to Lose”.
Infelizmente a nossa vida é curta demais pra se ler, ouvir e assistir tudo que queremos ao longo dela. Todo dia há novos lançamentos, tanto de bandas novas quanto de nomes consagrados, e nunca há tempo suficiente para se ouvir tudo. Infelizmente, muita coisa acaba ficando numa pilha esquecida num canto ou deixada numa lista qualquer num caderninho largado em qualquer lugar. Hoje, um desses discos encontrou seu caminho até mim. O Clube da Distorção e Quebradeira, as bandas catarinenses, a Somaa e a Sylverdale se fizeram ouvidas neste dia. Ao invés de lamentar o tempo que perdi sem conhecê-las, prefiro ser grato por tê-las conhecido, entre tantas outras que continuam em gavetas e listas perdidas por aí.
Clube da Distorção e Quebradeira, Vol.2 – Somaa & Sylverdale
Gravadora: Hexagram Media
Leve dois – Pague um! Tem um Vol.1? Um Vol.3? Não sei. E sabe de uma coisa? Isso não importa! É divertido pacas!