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Resenha: Sopa de Cabeça de Bagre – Escambau (2017)

Antes de qualquer comentário é preciso admitir que: Qualquer banda que conceba uma obra para ser dividida em duas partes, ou seja, 2 discos ou 2 CDS, mesmo que virtuais, pode ser tachada de louca ou com bastante coragem! São no mínimo 15 canções, mas, nesse caso, o quinteto optou por 20 faixas, divididas em 2 CDS, 10 músicas em cada CD físico ou virtual.

Alguns artistas ou bandas que já se empreitaram no metiê, dificilmente ficaram no meio termo, ou foram muitíssimo bem-sucedidas, ou ficaram bem abaixo da média.

O Escambau um quinteto oriundo de Curitiba é quase um “dream team” de músicos que também tem outras bandas na capital paranaense. Maria Paraguaya (Les Infâmes), Ivan Rodrigues (Magaivers e Gripe Forte), Giovanni Caruso (Giovaneides, Gripe Forte e Irmãos Caruso), Yan Lemos (Les Infâmes) e não menos importante, Zo Escambau.

No primeiro disco, as canções passeiam por inúmeros estilos musicais, causando uma verdadeira viagem regada a psicodelia e lirismo (“Organismo Só”), rock com guitarras estilo anos 80 embebido a Odair José (“Fogo”), reggae (“Espriguiçadeira”), chamamé argentino com rock (“Louco”) e ainda sobram canções com críticas pesadas ao atual cenário social e politico brasileiros.

Nesse ponto, a verve letrista de Giovanni sobressai de tal maneira que é impossível não notar que um verdadeiro artista aliado a músicos de alto gabarito, resultam em verdadeiras canções atemporais.

“Pr’onde É Que Vai?!” é um libelo forte e pujante da atual divisão social e política do Brasil. Psicodelia, ritmos crescentes e uma música que abusa da quebra de ritmos e destrincha como uma navalha a atual situação.

É interessante notar que de dez canções do primeiro CD, apenas uma destoa da qualidade das demais, justamente a regueira “Espreguiçadeira” é o famoso ponto fora da curva. Do mesmo jeito que os britânicos do Led Zepellin criaram “D’yer Mak’er” que dentro da obra da banda é uma canção menor, a canção com ares jamaicanos não faz jus ao turbilhão de emoções e sonoridades distintas e complexas que o restante do primeiro álbum causa aos ouvintes.

Indo para o segundo compêndio de músicas, conforme o próprio Giovanni Caruso nos alertou, são canções com cheiro e jeito de hits, e porquê isso?

Primeiro, porque são canções mais “acessíveis”, mesmo mantendo o tom de crítica a cada canção que surge, a leveza permeia cada música. Sendo assim, seria possível atingir o tom comercial e ao mesmo tempo manter o nível?

Se você tem uma banda desse nível, a resposta é sim.

O mais interessante aqui não são as variáveis musicais e sim manter o tom e saber que cada canção possui o potencial de estar em qualquer rádio com 1% de neurônio.

Se você querido ouvinte e amante da música independente procura um trabalho mais rebuscado e fora do comum, ouça o CD 1. Se você mesmo ouvinte, procura uma banda mais despojada e atenta à possíveis hits radiofônicos, fique com o CD 2.

Mas se você quer apenas um trabalho acima da média, esqueça tudo que foi escrito e a minha opinião e escute com todo o gosto as 20 canções, porque com uma única exceção, as demais faixas premiam o que mais importante acontece na carreira dessa banda; a produção de belas obras, um evoluir constante e a ausência total de amarras que outras bandas acabam por se prender com o passar dos anos.

Sopa de Cabeça de Bagre, desde já é uma verdadeira ode às grandes obras atemporais que outras bandas já fizeram e acima de qualquer suspeita, é um respeito aos trabalhos anteriores da Escambau!

9.6

Sopa de Cabeça de Bagre – Escambau

Gravadora: Independente

Psicodelia. críticas sociais e puro talento. Escambau em seu quarto CD (duplo) dá aula!

Luciano Vitor

Luciano Vitor

Formado em direito, frequentador de shows de bandas e artistas independentes, colaborou em diversos veículos: Dynamite, Laboratório Pop, Revista Decibélica, Jornal Notícias do Dia, entre outros. Botafoguense moderado, carioca radicado em Florianópolis há mais de 20 anos.

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