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Resenha: Terraplana – Natural (2025)

O segundo álbum do quarteto curitibano Terraplana expande suas texturas sonoras sem perder a identidade etérea que marcou seu primeiro trabalho, Olhar pra trás. Se antes o peso das camadas de distorção guiava a experiência, agora a banda parece mais interessada em construir atmosferas envolventes a partir da repetição e do espaço entre os instrumentos. O resultado é um disco que soa mais acessível em alguns momentos, mas sem abrir mão das características que fazem do Shoegaze e do Dream Pop gêneros tão fascinantes.

Neste segundo esforço completo, também lançado pela Balaclava Records, a banda não faz tanto uso da característica parede de som, um dos elementos centrais do Shoegaze, e abraça sequências de acordes confortáveis e repetitivas. Ela aparece, não se enganem, com destaque para a belíssima “Airbag”, mas ela não é um elemento central. Tem um glide guitar elegante em “Charlie”, o primeiro single extraído do álbum, em meio a um riff que lembra muito “Smells Like Teen Spirit” do Nirvana. Nos primeiros segundos eu fiquei um pouco incomodado, mas acho que é apenas uma pequena coincidência e meu incômodo foi passando a medida que os outros instrumentos entraram. Há certamente uma referência clara ao Joy Division em “Hear a Whisper”, que começa com um riff de baixo modulado à Peter Hook que também tem um momento quase Sonic Youth no final.

Para os não-iniciados em Shoegaze e Dream Pop, esses gêneros de gente esquisita que ouve música que parece um aspirador de pó, glide guitar é uma técnica muito utilizada pelo guitarrista e vocalista da seminal banda irlandesa My Bloody Valentine, Kevin Sheilds, em que se toca a guitarra segurando e balançando o tremolo da guitarra, aquela alavanca que fica na ponte do instrumento.

Os pontos baixos são os momentos e músicas que não são liderados pela voz doce da vocalista Stephani Heuczuk. O contraste entre as músicas cantadas por Stephani e as outras é gritante. Pessoalmente, eu poderia ouvir a voz dela o dia inteiro, emendando uma música na outra entre sussuros e suspiros, abraçado no conforto da distorções calorosas e da repetição melódica. Por outro lado, fiz um esforço hercúleo pra não passar todas as faixas cantadas que não eram cantadas por ela. As vozes masculinas parecem cobertas de tédio e há um problema um tanto grave na produção e na mixagem em músicas como “Desaparecendo” em que a voz de Stephani parece engolida pela voz de Vinícius Lourenço, que divide os vocais com ela em muitas músicas. Em músicas como “Todo Dia”, um dueto, esse problema não é tão perceptível, mas a diferença de volume incomoda.

Todas essas mudanças, as vezes sutis, as vezes mais firmes, já são mostradas na arte de capa — uma arte colorida em tela e têmpera, muito diferente da foto borrada e distorcida da vocalista olhando para além do quadro. Há um certo chavão no gênero com músicas que alternam entre vozes masculinas e femininas, e pessoalmente entendo os motivos que levam bandas a cantarem em inglês, porém com Natural parece presa entre dois mundos e dois idiomas. Talvez eu esteja sendo duro demais com uma banda que entregou um excelente segundo trabalho e, talvez, eu não consiga deixar de fazê-lo porque o potencial por trás das composições e das performances é visível.

7.1

Natural – Terraplana

Gravadora: Balaclava Records

Glide guitar, melodias interessantes e a doçura da voz da vocalista Stephani Heuczuk. Uma pena que as vezes ela divide os vocais.

Alexandre Aimbiré

Alexandre Aimbiré

Estudante de Letras, guitarrista de fim de semana, DJ ocasional, leitor ávido de Wikipédia e escritor de romances de gaveta. Manézinho de nascimento, criado em Porto Alegre e atualmente mora em São Paulo. Como todo bom crítico, já tocou em várias bandas que não deram em nada.

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