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Resenha: The Linda Lindas – No Obligation (2024)

Conheci a The Linda Lindas em um vídeo no Instagram. Eram quatro garotas (Mila, Lucia, Eloise e Bela), de onze a dezessete anos e muita presença, tocando um som cru e transformando em música a indignação sobre um episódio de racismo amarelo vivido por uma delas. O título da pedrada é Racist, Sexist Boy, a propósito.

Minha primeira resenha da vida vai para o segundo álbum dessas adolescentes que escancaram suas críticas por meio do punk, com letras afiadas e melodias que dão gosto de ouvir.

Começo dizendo que gostaria de ter ouvido No Obligation quando eu era adolescente, porque para mim as Linda Lindas soam muito com a vontade de revolução que eu sentia (de mudar o mundo, de ser diferente, de viver sem tantas regras). Nunca fui uma criança nem uma adolescente de gostos muito comuns, mas por vezes me sentia meio fora da bolha, segura do que eu gostava, mas insegura ao mesmo tempo de não “pertencer”. E acho que elas dizem coisas nesse álbum que me parecem um “foda-se” gigante, tipo “não estou aqui para te agradar”, sabe?

A primeira coisa a se notar neste álbum é: todas elas cantam (e todas compõem). Isso, aliás, é maravilhoso. Cada faixa traz a personalidade de quem assume o vocal e isso dá uma cara única para cada canção. Ainda assim, a sintonia do conjunto é harmoniosa.

O segundo disco parece continuar a jornada de Growing Up, o primeiro álbum da banda, pois fala sobre crescer, sobre inseguranças da adolescência e identidade. Entretanto, mais do que isso, traz à tona também a necessidade de ser visto e aceito como se é, e não como a sociedade quer encaixotar pessoas em rótulos ou ditar regras sem sentido, o que o torna também um álbum bem político. 

Como uma autêntica libriana, fiquei indecisa sobre quais músicas destacar aqui, mas escolhi três que equilibram a energia de No Obligation. Excuse Me  denuncia a insatisfação de se viver numa sociedade patriarcal que quer decidir como agir e como existir. É cantada por Eloise, a voz mais carregada e visceral entre as integrantes. Yo Me Estreso já se volta para dentro do eu, no campo da cabeça cheia de pensamentos e ansiedades que muitas vezes ditam nossas atitudes e sentimentos, mas depois se esvaem e mostram que a questão era bem menor do que se imaginava e as coisas voltam a fluir. É cantada por Bela Salazar em espanhol e, diferente da energia de Eloise, tem uma pegada mais calma, porém firme. Por último, Nothing Would Change trata das mudanças da infância para a adolescência, e, embora sejam fases da vida muito próximas, em determinado momento do crescer, parece que há um abismo entre elas. Essa faixa é cantada pelas irmãs Lucia e Mila, vozes mais doces e melodiosas, mas igualmente diretas. 

Minhas preferidas são as mais melódicas, com nuances mais pop, como, por exemplo, All In My Head, Once Upon A Time e Don’t Think (o combo voz da Lucia, letra e melodia me pegam muito sempre, confesso). 

Além da sintonia entre as vozes, o som da banda é tão visceral e urgente quanto as letras: simples, honesto e direto ao ponto. Na minha opinião de leiga, diria que ele traz guitarras rasgadas e enérgicas, uma bateria de ritmo rápido e ousado, e um baixo que se faz prazerosamente notável entre os instrumentos.

Vale lembrar que as meninas têm crescido no cenário da música e já chegaram a abrir shows para nomes conhecidos como Green Day, Paramore, The Smashing Pumpkins e Rancid, entre outros. Mal posso esperar para ouvir mais do que elas terão a dizer ao mundo conforme forem crescendo na vida e na música.

8.5

No Obligation – The Linda Lindas

Gravadora: Epitaph

O som da banda é tão visceral e urgente quanto as letras: simples, honesto e direto ao ponto.

Tati Barreto

Tati Barreto

Nascida e crescida em São Paulo e pertencente à área de humanas desde que se entende por gente. Estudante de Letras, atriz quando possível, escritora de fanfics e uma grande entusiasta de música, artes, comédias românticas, livros de suspense e animes, entre outras paixões. “A música é o vínculo que une a vida do espírito à vida dos sentidos. A melodia é a vida sensível da poesia.” (Ludwig van Beethoven)

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