Resenha: The Mars Volta – Lucro sucio; Los ojos del vacio (2025)
A gente nunca sabe o que esperar de um álbum novo do The Mars Volta. Famosa pelo seu experimentalismo e maximalismo feito de paredes de som, a banda liderada pelos ex-At the Drive-in, Omar Rodríguez-López e Cedric Bixler-Zavala continua firme na parte do experimentalismo, mas botou o pé no freio no resto. O álbum todo flerta com o pop, desde as batidas até o vocal mais contido — e cheio de falsetes — de Bixler-Zavala, especialmente se comparado com outros álbuns da banda. Mas este não é um álbum fácil. “Pop” aqui não significa simplicidade ou acessibilidade. Os arranjos continuam cheios de camadas e em diversos momentos as texturas confundem a audição. Mesmo assim, as faixas encontram espaços e elas respiram, mesmo nos momentos mais claustrofóbicos.
Lucro sucio; Los ojos del vacío soa como se Omar e Cedric se trancaram num quarto por tempo demais ouvindo soul psicodélico, synthpop e trilhas de filmes obscuros dos anos 70. Os grooves são mais secos, muitas vezes levados por linhas de baixo quase subliminares e baterias compactas, e correndo pelos lados vêm teclados analógicos e efeitos de fita. Tudo parece ter sido passado por filtros analógicos e muito reverb. Cedric canta como se estivesse de olhos fechados num palco mal iluminado de um piano bar num aeroporto retrofuturista. Em vários momentos há tensão, como se o caos estivesse sempre à espreita, mas ele nunca chega.
As quatro primeiras faixas são único movimento contínuo, com transições tão sutis que é difícil perceber onde uma termina e a outra começa. Elas flutuam de uma maneira contida, preparando o terreno para a primeira grande quebra de expectativa: “The Iron Rose”, onde a estrutura ganha contornos mais definidos e a tensão se arma de forma mais clara. A primeira música que realmente se destaca, no entanto, é “Cue the Sun” — um pop torto, mas cativante, que encontra sua gêmea espiritual na sequência, a jazzística e etérea “Alba del orate”. Aqui, o disco parece respirar de um jeito novo, como se tivesse finalmente encontrado sua frequência.
Mas é na metade final do álbum que encontramos o melhor do álbum. “Voice in My Knives” e “Poseedora de mi sombra” são exercícios de suspense, onde cada som parece criar uma atmosfera ritualística. E então, quando parece que a banda vai se perder de vez no próprio vazio, entra “Vociferó” com uma potência quase catártica. É uma faixa tensa, como um copo d’água prestes a transbordar, e, assim como “Morgana”, são faixas extremamente sensuais. Construída em cima da repetição hipnótica de mesmo verso “I can’t get you out of my mind”, ela é simples, direta, e absolutamente eficaz. Em particular, a potência dessas faixas está justamente em sua simplicidade — algo que muitos artistas pop tentaram (olha de canto de olho pro Justin Timberlake), mas poucos realmente conseguiram.
Lucro sucio; Los ojos del vacío é um disco estranho, sinuoso, cheio de sombras e sussurros. Um álbum cheio de malemolência, que seduz sem confrontar, e que exige do ouvinte o tipo de atenção que muitas vezes falta na era das playlists descartáveis. É um The Mars Volta mais contido, mas nem por isso menos provocativo. Cedric e Omar parecem estar mais interessados em desorientar do que em impressionar. Talvez não seja o mais barulhento, nem o mais memorável à primeira ouvida. Eu mesmo detestei ele quando o ouvi pela primeira vez. Mas é, sem dúvida, um dos mais intrigantes.
Lucro sucio; Los ojos del vacio – The Mars Volta
Gravadora: Clouds Hill
Um álbum esquisito. Mas o que esperar da The Mars Volta, não é mesmo?