Resenha: Tigre Robô – Telefone pra Cachorro (2025)
Até 1999, mais ou menos, o mundo ainda parecia grande o suficiente para você se esconder por meses ouvindo um disco e achar que ninguém mais sabia daquilo. Aí veio o Napster e o resto é história.
Hoje, uma banda de Brasília pode lançar um álbum com nome de piada interna e você tropeça nele num tweet, num meme ou numa playlist aleatória e, às vezes, dá certo. Sim, Telefone pra Cachorro, da Tigre Robô, é um desses tropeços bons. Um álbum estranho, debochado e bagunçado, que marca a estreia de Junio Silva, Isabela Fernandes, Guilherme Okamura e Rafael Lamim.
A banda é parte dessa nova safra de jovens que, com um smartphone, uma ideia torta e alguns pedais emprestados, estão fazendo música de garagem sem precisar, necessariamente, de uma garagem. E tem algo de pós-tudo no som: um pouco de indie, umas fritações de rock alternativo, ecos de pós-punk e Gen Z.
Tem algo que ainda me soa estranho nessa geração nova. O modo como encaram a música, a internet, a vida. Como fazem meme de tudo e, de repente, viram referência.
Mas estranho não é sinônimo de ruim, e a Tigre Robô entende isso melhor do que muito veterano. Das 11 músicas, destaco ME CONTE TUDO e TURISMO: uma tende a parecer Os Pedrero e a outra me lembra o primeiro trabalho do Cansei de Ser Sexy. E ainda tem barulho. Tem ruído, tem jeito de áudio de MSN, gravado com aquele microfone que a gente tinha no começo dos anos 2000 e que vinha junto com o computador de mesa.
Uma verdadeira salada sonora. E é isso mesmo: se você é daqueles que só gosta de carne, passe longe. Se estiver aberto a ouvir o que a juventude tem a dizer, conheça a Tigre Robô e seu álbum Telefone pra Cachorro. Mas atenção: talvez você não entenda a mensagem na primeira audição.
Telefone pra Cachorro – Tigre Robô
Gravadora: Manga Rec
Telefone pra Cachorro não é um disco pra agradar todo mundo.