Resenha: Twinpine(s) – As a Surprise (2013)
Uma coisa que a gente fala pouco a respeito aqui é sobre a abordagem que temos ao resenhar qualquer coisa que chega aos nossos ouvidos. Primeiro, e mais importante, a gente não põe a mesma medida para bandas independentes e artistas conhecidos, principalmente aqueles assinados por grandes gravadoras. Se por atrás do trabalho há um orçamento grande, um exército de produtores e uma gravadora que faz parte de um conglomerado que inclui até um parque de diversões, eu serei extremamente impiedoso na minha análise. Se um álbum custou algumas dezenas de milhares de dólares, o mínimo que se espera é que ele soe aos nossos ouvidos como a pilha nababesca de dinheiro que ele custou. No outro extremo, temos um single como este da banda paulistana Twinpine(s).
As a Surprise, é um CD em uma capa de papel cartão reciclado simples. A arte digital que está exposta nesta matéria não dá conta de demonstrar o certo charme que a coloração irregular do papel dá à ilustração. Este é o trabalho de uma banda independente que tirou de seu próprio bolso os recursos — e principalmente tempo — para botar o trabalho literal do seu suor no mundo. Claro, se ele for ruim, não há muito que a gente possa fazer. Para a minha alegria, este não é o caso do (na época) trio paulistano. A produção soa crua, mas dentro do esperado para uma banda independente. Há problemas claros no mix, mas dá pra relevar.
Outra coisa importante é analisar o trabalho no contexto temporal em que ele foi feito. Este single e suas três músicas tem mais de dez anos. No contexto atual, talvez isso soe datada, com referências antigas. É preciso olhar as obras do passado com o olhar da época em que eles foram criados. Algumas vezes, os referenciais são tão universais e atemporais que mesmo uma música de uma década ou duas a mais soa fresca aos nossos ouvidos. Há muito de universal neste EP de três músicas.
As a Surprise é, sim, datado — mas no bom sentido. Ele carrega uma estética que remete ao indie dos anos 2000 e ao math rock com cara de fita demo. Uma melancolia minimalista que caberia fácil num single da Faraquet. Tem algo muito bonito no modo como essas canções se apoiam na sutileza dos timbres limpos, como se a banda estivesse mais preocupada em criar uma atmosfera do que em chegar a algum refrão marcante. A faixa-título abre com timidez, e permanece assim até o fim. “First Try”, a segunda, é a mais luminosa do trio, mostrando que a banda sabia bem onde queria chegar, mesmo que eu sinta a falta de um refrão mais sólido. O EP fecha coma instrumental “Niagara Falls”. Mesmo sem vocais, a bateria e as guitarras em camadas bem distintas trazem bastante energia à faixa.
O EP é curto, mas não precisa de mais. É um retrato honesto de uma época e de uma banda que, dentro das suas limitações técnicas e orçamentárias, fez algo com alma. Se o mundo fosse mais justo, “As a Surprise” teria encontrado mais ouvidos. Mas tudo bem: a gente ouve agora, dez anos depois, e ainda faz sentido.
As a Surprise – Twinpine(s)
Gravadora: Independente
O charme lo-fi deste EP ainda soa fresco, mesmo tendo passado mais de dez anos de seu lançamento.