Resenhas

Resenha: Wunderhorse – Cub (2022)

Logo na primeira faixa, os primeiros acordes e a reverberação de um chorus poderoso nos deixa claro que estamos ouvindo uma banda britânica. Poderia ser mais um pós-britpop choroso e melancólico, um filhote perdido de Oasis e Blur querendo ser os Arctic Monkeys. Porém, os rapazes da Wunderhorse parecem ter bebido de outras fontes.

Inicialmente o projeto solo do multitalentoso Jacob Slater criado em meio à pandemia de COVID-19, a banda britânica teve suas origens na provinciana Cornwall, aquela pontinha bem ao sudoeste da Inglaterra onde as pessoas falam um dialeto famosamente peculiar. Em seu trabalho de estréia, Cub, o quarteto combina texturas e paredes de som com harmonias vocais melodiosas, timbres bluseiros e riffs que remetem ao grunge. a dançante “Leader of the Pack” é carregada por um riff simples e cheio de overdrive, além de uma performance cativante de Slater.

Mas é na modulação do chorus que Cub brilha mais forte. “Butterflies”, a faixa de abertura, “Purple” e “Poppy”, com seu solo expandido no final da música, enchem os ouvidos com harmonias ricas e refrões impactantes. Esses momentos demonstram um equilíbrio invejável entre peso e melodia, alternando entre versos mais contidos e explosões catárticas no refrão.

A produção reforça essa dinâmica. As camadas de guitarras preenchem o espaço sem soarem excessivas, permitindo que os vocais sejam ouvidos na mesma intensidade que eles são cantados. Há uma sensação de urgência e sinceridade em todo álbum, como se cada nota fosse escolhida para amplificar o impacto emocional das letras. Cub é um trabalho excelente de storytelling. O cuidado na escrita das líricas é impressionante. Cada canção conta uma história diferente, contada pelo ponto de vista de um narrador-personagem que caminha entre diferentes ambientes e se relaciona com diferentes pessoas. Quando Slater implora “Don’t go, don’t leave me here” (“Não vá, não me deixe aqui”) no refrão de “17”, é impossível não sentir a tristeza que a voz dele carrega ao cantar essas palavras, como se a pessoa a quem essas palavras são direcionadas estivesse na sua frente.

Isso não significa que o ‘não tenha suas barrigas. O final do Lado B — ou “a metade final do álbum” pra vocês que nasceram depois de 1995 — fica um pouco moroso. “Morphine” é belíssima, mas parece uma música que em momentos soa inacabada e um pouco simples demais para fazer parte deste álbum e “Mantis” é um pouco chatinha. Há momentos em que o álbum parece estar perdido nos Anos 90. “Girl Behind the Glass” tem guitarras que remetem aos primeiros discos do Radiohead. O álbum encerra forte com “Epilogue”, uma belíssima síntese de todo o trabalho. A música termina aos berros ecoando a dor que apenas um coração partido consegue exprimir, reverberando com a distorção da guitarra.

Apesar dos deslizes no final, Cub é certamente um dos álbuns de estreia mais interessantes desta década. A Wunderhorse demonstra uma maturidade impressionante para uma banda tão jovem, equilibrando referências fortes e uma identidade própria bem formada. As composições sinceras, arranjos bem trabalhados e a entrega emocional de Jacob Slater tornam a audição do álbum uma experiência intensa.

8.7

Cub – Wunderhorse

Gravadora: Communion Records

O álbum de estreia desde quarteto britânico é brilhante e certamente uma das melhores coisas que saiu daquela ilha desde o Brexit.

Alexandre Aimbiré

Alexandre Aimbiré

Estudante de Letras, guitarrista de fim de semana, DJ ocasional, leitor ávido de Wikipédia e escritor de romances de gaveta. Manézinho de nascimento, criado em Porto Alegre e atualmente mora em São Paulo. Como todo bom crítico, já tocou em várias bandas que não deram em nada.

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