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Coberturas

A melhor banda da tarde: English Teacher no C6 Fest

Sem hype ou artifícios, a English Teacher conquistou o C6 Fest com carisma, energia e ótimas músicas.

Foi um show no meio da tarde, daquele tipo que geralmente ignoramos — e que foi largamente ignorado pela cobertura de vários veículos de imprensa. Uma pena, porque talvez o show da English Teacher tenha sido o melhor do festival. A tenda estava cheia, e ainda havia os curiosos que entravam no festival e se encantavam com a banda. O que poderia ter sido uma apresentação casual acabou se tornando uma performance energética de uma banda cheia de potencial, ainda no início da carreira.

Enquanto o nome da banda pulsava atrás deles, projetado em diferentes fontes sobre um fundo estaticamente preto, os integrantes enchiam a tenda com a energia crua de uma banda independente tocando numa casa pequena — mas com som de palco grande. Era uma energia despretensiosamente descolada, com um charme natural — especialmente da vocalista Lily Fontaine. Nada de pirotecnia, discursos ensaiados ou figurinos elaborados. Só camisetas e calças jeans. Apenas presença de palco e a segurança de uma banda que, apesar da trajetória ainda curta, já soa como veterana. Todos no palco sabiam exatamente o que estavam fazendo.

Entre canções mais empolgantes como “A55” e “Nearly Daffodils”, e faixas mais atmosféricas e confessionais como “You Blister My Paint”, o set foi equilibrado, centrado principalmente no álbum de estreia This Could Be Texas. Lily Fontaine conduzia tudo com um carisma espontâneo, alternando olhares cúmplices para a banda com conversas francas com a plateia. Em certo momento, ela dedicou “Mastermind Specialism” ao seu time do coração, o Liverpool FC, e ao goleiro Alisson Becker. Isso teria sido um dos momentos mais memoráveis da apresentação — não fosse o fato de a própria vocalista ter chamado uma fã ao palco para tocar guitarra em “R&B”, o primeiro single da banda. Essa espontaneidade, somada ao carisma natural de Fontaine, foi certamente um dos pontos altos do show.

Ainda que Lily seja o centro natural das atenções, o show só funciona porque o resto da banda também está no mesmo nível. O guitarrista Lewis Whiting alterna texturas e riffs que dão corpo às faixas, enquanto o baixista Nicholas Eden mantém tudo firme com linhas precisas e dançantes. No fundo do palco, o baterista Douglas Frost segura o ritmo com discrição e intensidade. Completando a formação ao vivo, a violoncelista Blossom Caldarone adiciona uma camada extra de delicadeza e densidade sonora, especialmente nas faixas mais introspectivas. Ninguém parece estar interpretando um papel ou tentando parecer algo além do que é. Há um senso de coesão e entrega que só reforça a impressão de que a banda já encontrou sua identidade — mesmo tão cedo na estrada.

Foi essa combinação de energia sem afetação e de um repertório certeiro que fez do show da English Teacher um dos grandes destaques do C6 Fest. Em meio a atrações que se escoravam no hype ou no artifício, a banda entregou um show que parecia acontecer ali, de verdade, diante dos nossos olhos. Daqui a alguns anos, quando eles voltarem ao Brasil para tocar num palco maior, num festival mais grandioso, promovendo o segundo (ou terceiro) disco, vamos nos lembrar deles assim — de pertinho, numa tarde ensolarada, numa tenda no meio de um parque.

Alexandre Aimbiré

Alexandre Aimbiré

Estudante de Letras, guitarrista de fim de semana, DJ ocasional, leitor ávido de Wikipédia e escritor de romances de gaveta. Manézinho de nascimento, criado em Porto Alegre e atualmente mora em São Paulo. Como todo bom crítico, já tocou em várias bandas que não deram em nada.

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